Em meio a uma rebelião interna em seu governo, Boris Johnson resiste em deixar o cargo de primeiro-ministro britânico.
A secretária do Interior Priti Patel, uma ex-aliada próxima de Johnson, se juntou na quarta-feira (6/7) a um grupo de ministros favoráveis à renúncia do premiê.
Johnson diz que não serão esses pedidos que o farão sair
Ele disse aos parlamentares que não seria correto "se afastar" em meio a pressões econômicas e à guerra na Ucrânia.
Diante de integrantes de um comitê do Parlamento britânico, Johnson descartou a possibilidade de convocar eleições gerais antecipadas, dizendo que isso só poderia acontecer em 2024.
A nova crise política foi iniciada após o governo mudar as versões sobre o conhecimento por parte de Johnson acerca de denúncias de abuso sexual contra um político conservador nomeado para um cargo importante.
Depois de inicialmente negar conhecimento à época da indicação, o primeiro-ministro confirmou que "houve uma queixa [sobre abuso sexual] mencionada especificamente para mim... Foi há muito tempo e foi dito para mim em uma conversa... Mas isso não é desculpa, eu deveria ter feito algo sobre isso".
Um integrante do governo negou à BBC News que o primeiro-ministro anunciaria sua demissão ainda na quarta-feira.
"Não há nada sendo preparado do lado de fora do nº 10 [a residência oficial do premiê britânico] para esta noite. O primeiro-ministro continua lutando", afirmou.
Os ministros de Transportes, de Negócios e o encarregado do governo para o País de Gales declararam apoiar a saída de Johnson.
Na terça-feira (5/7), o ministro da Saúde, Sajid Javid, e o das Finanças, Rishi Sunak, renunciaram aos seus cargos.
A BBC apurou que os argumentos do premiê para sua permanência são os milhões de votos recebidos e que possíveis sucessores do Partido Conservador não conseguiriam "repetir seu sucesso na próxima eleição".
Enquanto isso, integrantes do alto escalão do partido adiaram a decisão sobre mudar as regras para uma nova moção de desconfiança contra Johnson.
O premiê sobreviveu no mês passado a um voto de desconfiança entre seus correligionários e, pelas regras atuais, um novo processo só seria possível no meio do ano que vem.
Além da renúncia por decisão do premiê, a moção seria o único meio de tirar Johnson do poder.
Após uma série de parlamentares entregarem seus cargos no governo, um aliado próximo ao primeiro-ministro disse à BBC que "agora é uma questão de como ele vai sair". Esse aliado acrescenta que a situação se tornou "insustentável".
Oposição questiona
Na tradicional sessão de quarta-feira no Parlamento, em que o premiê britânico é questionado por seus pares, o líder trabalhista Keir Starmer disse que os conservadores se tornaram um "partido corrompido que defende o indefensável".
Ele citou os ministros que renunciaram nos últimos dias, dizendo que o fato de não terem deixado o governo antes mostra que não há "um pingo de integridade".
O trabalhista atacou os ministros que permanecem em seus cargos chamando-os de "cachorrinhos dóceis" que mantêm Johnson no poder.
Javid, ex-titular da Saúde, publicou um comunicado em que justifica sua saída afirmando que "andar na corda bamba entre lealdade e integridade" se tornou "impossível nos últimos meses".
Mesmo um político conservador, Gary Sambrook, acusou o primeiro-ministro de jogar a culpa em outras pessoas por seus erros durante a sessão. Sambrook foi aplaudido após pedir que o premiê renuncie.
Mas Johnson contra-atacou, dizendo que tinha o direito de ficar no poder, porque conquistou uma larga maioria parlamentar nas eleições de 2019.
"O primeiro-ministro recebeu um mandato colossal e seu trabalho em circunstâncias difíceis é continuar - e é isso que vou fazer."
O editor de política da BBC Chris Mason analisa que a atmosfera na sessão indica que Johnson perdeu apoio e influência entre seus colegas de partido.
A avaliação interna é de que o primeiro-ministro não conseguirá resistir por muito tempo.
- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/internacional-62073574
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