Menos de um mês depois de ganhar o voto de confiança do Parlamento, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johson, enfrenta nova turbulência e pode estar com o poder por um fio. Os ministros Sajid Javid (Saúde) e Rushi Sunak (Finanças) renunciaram, em protesto pelo fato de o premiê ter nomeado para um cargo importante Chris Pincher, líder conservador acusado de apalpar dois homens enquanto estava embriagado, um deles um deputado. A decisão de Pincher de sair do governo não evitou que o escândalo respingasse em Johnson, que precisou agir rapidamente. Ontem mesmo, ele anunciou o ministro da Educação, Nadhim Zahawi, como novo titular de Finanças. No fim da noite, a parlamentar Theo Clarke também apresentou sua renúncia como enviada para o comércio no Quênia.
"Está claro que esta situação não mudará sob sua liderança e, consequentemente, ele perdeu minha confiança", afirmou Javid, ao se referir a uma suposta cultura de tolerância aos escândalos sucessivos em que Johnson se envolveu, como as festas durante o lockdown imposto pela pandemia da covid-19. "A população tem uma expectativa legítima de um governo devidamente conduzido, competente e sério", escreveu, por sua vez, Sunak.
Diretor do Departamento de Economia Política do King's College London, o professor Andrew Blick admitiu ao Correio que a saída de dois ministros experientes representa um "sério problema político para Johnson". "Isso não significa que ele terá de partir da Downing Street. Boris pode escolher ficar até que seja realmente obrigado a ir. Isso é mais provável de ocorrer, caso o Partido Conservador realize novo voto de desconfiança no Parlamento. Esse cenário dependeria de uma mudança nas regras do partido, algo possível", explicou.
Para Blinck, o primeiro-ministro não reagiu de forma adequada, ao escolher Pincher para o cargo de liderança no governo. "Ele enganou a opinião pública e os colegas a respeito do prévio conhecimento sobre o comportamento de Pincher, suspeito de conduta sexual inapropriada contra várias pessoas. Pincher ainda não foi acusado formalmente pelos crimes."
Líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, defendeu a convocação de eleições gerais antecipadas e não poupou os tories (conservadores). "O Partido Conservador está corrompido e mudar somente um homem não vai consertar isso", disse. A situação de Johnson é cada vez mais crítica. Uma pesquisa realizada pelo instituto YouGov, na noite de terça-feira, mostra que 69% dos britânicos querem a renúncia do premiê, enquanto 18% defendem a sua permanência. (RC)