Entre 10 e 100 bilhões de organismos vivos habitam cada litro de água do mar. Mas este "microbioma oceânico", que tornou o planeta habitável, permanece em grande parte desconhecido e uma missão científica – realizada com a Marinha Francesa – pretende catalogá-lo.
"O microbioma do planeta Terra é o tema do século", diz Colomban de Vargas, diretor de pesquisa do CNRS, centro francês de pesquisa científica, na estação biológica de Roscoff (oeste).
Este suíço, "obcecado pela exploração", dedicou-se a mapear o plâncton oceânico, esta grande "sopa de micróbios" composta por vírus, bactérias, protistas, animais, etc. Essas "florestas invisíveis", navegando à mercê das correntes oceânicas, tornaram o planeta habitável, produzindo a maior parte do oxigênio que respiramos, detalha.
"A biodiversidade é, sobretudo, microbiana. Por 3 bilhões de anos, havia apenas micróbios", diz o pesquisador. Agora, "não se sabe com quais micróbios vivemos, nem quantos existem na Terra".
Aproveitando as lições da missão "Tara Oceans", que já realizou 220 medições de microrganismos marinhos, Colomban de Vargas e seus colegas pesquisadores querem estabelecer uma "medida cooperativa, frugal, planetária e perene" dessa vida oceânica invisível.
Através do projeto "Plankton Planet", o objetivo é confiar, a longo prazo, instrumentos de medição e sensores economicamente acessíveis às dezenas de milhares de veleiros, navios comerciais ou cargueiros que percorrem o planeta.
O objetivo é compreender "a adaptação da vida diante das mudanças brutais" impostas pelas atividades humanas.
"Mas não é óbvio porque é preciso que a medida seja homogênea. Tudo vai depender da qualidade desta medição", enfatiza Colomban de Vargas.
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Migração do plâncton animal
Por sua vez, a missão Bougainville - em cooperação com a Marinha Francesa - visa consolidar a confiabilidade dos "sensores" de plâncton.
Para isso, dez alunos de mestrado da Universidade Sorbonne, em Paris, embarcarão em navios da Marinha nacional como "oficiais da biodiversidade".
"É importante viver o oceano quando o estudamos", comenta o almirante Christophe Prazuck, diretor do Instituto Oceânico da Sorbonne, que fez a ponte entre a Marinha e a academia.
Os alunos percorrerão os 11 milhões de km2 da França oceânica nos oceanos Índico e Pacífico, a bordo de navios de apoio e assistência em ultramar (BSAOM).
Ex-comandante do Estado-Maior da Marinha francesa, Prazuck também vê nesta missão um interesse operacional para as tripulações. "Quando você observa o seu ambiente, se torna um marinheiro melhor", sublinha.
"Na Marinha, temos uma tradição bastante importante de pesquisa científica", acrescenta o capitão Éric Lavault, porta-voz da Marinha francesa.
Após testes na costa de Brest (oeste), os primeiros alunos embarcarão em setembro de 2023 e coletarão milhares de dados biológicos (imagens e DNA) até 2025.
Os dados coletados, "centenas de bilhões de imagens de plâncton e sequências de DNA", serão armazenados em bancos de dados abertos a pesquisadores de todo o mundo, explica Columban de Vargas.
Eles permitirão controlar a saúde dos ecossistemas marinhos e sua evolução com base na poluição ou no aquecimento climático.
Além disso, os pesquisadores querem estudar a migração do plâncton animal em profundidades de várias centenas de metros durante a noite, descrita como o "maior movimento de biomassa" do planeta, e que seria um dos motores da "bomba de carbono" envolvidos na captura de CO2 no oceano.
O custo da missão, que deve ser financiada por particulares, é estimado em cerca de US$ 950.000 para os primeiros três anos.