O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou ontem a Rússia pelo que chamou de "terror deliberado", em referência a ataques letais na região de Odessa. Na sexta-feira, três mísseis destruíram um complexo turístico e um edifício de grande porte em Serhiivkaka, na costa do Mar Negro. A investida teria provocado a morte de 21 pessoas, incluindo uma criança de 12 anos. Outras 38 vítimas ficaram feridas.
Segundo o governante, não se trata de acidente. "Isso é terror russo deliberado e não erros ou um ataque acidental com mísseis", denunciou Zelensky. Não havia alvo militar no local do ataque, disseram as autoridades da cidade, situada a 80km de Odessa. Zelensky voltou a pedir ao Ocidente que envie sistemas antimísseis à Ucrânia. Em resposta, o Kremlin garantiu que "as forças armadas da Rússia não operam contra alvos civis" no país vizinho. A reação foi descrita pelo governo alemão como "desumano e cínico".
"Peço aos nossos parceiros que forneçam à Ucrânia sistemas de defesa antimísseis o mais rápido possível. Ajudem-nos a salvar vidas", implorou o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kouleba, chamando a Rússia de "Estado terrorista". Respondendo à demanda, o Pentágono anunciou US$ 820 milhões em nova ajuda militar a Kiev, incluindo até 150 mil projéteis de 15mm, novos mísseis para os lançadores múltiplos de foguetes Himars, que chegaram recentemente ao campo de batalha, bem como sistemas de defesa antiaérea Nasams. A Noruega, por sua vez, anunciou uma doação de cerca de 960 milhões de euros.
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Armamento soviético
De acordo com o exército ucraniano, os projéteis usados contra Serhiivka foram mísseis de cruzeiro soviéticos datados da Guerra Fria e projetados para atacar porta-aviões, do mesmo tipo daqueles que atingiram um shopping center em Kremenchuk em plena luz do dia, matando pelo menos 19 pessoas, há uma semana. Zelensky reconheceu que a situação continua "extremamente difícil" em Lysytchansk, onde a maior parte dos combates está concentrada e onde os russos "tentam cercar" o exército ucraniano "pelo sul, leste e oeste", segundo o governador local, Serguiï Gaïdaï.
Ontem, combates ferozes ocorreram na cidade que, segundo os separatistas pró-russos, está cercada, embora o exército ucraniano negue e afirme que continua resistindo no município mais importante que controla na bacia do Donbass. "Felizmente, a cidade não está cercada e está sob o controle do exército ucraniano", garantiu o porta-voz da Guarda Nacional, Ruslan Muzychuk. Na véspera, o Ministério da Defesa russo anunciou que suas forças "chegaram na "pesadas perdas" ao exército ucraniano na entrada Lysytchansk" e infligiram . Trata-se da última grande cidade que ainda não está nas mãos de Moscou na região de Luhansk.
Cerca de 60km mais a oeste, em Sloviansk, uma cidade do Donbass não muito distante das de Izium e Lyman — ambas nas mãos das forças russas —, um ataque com foguetes atingiu casas habitadas na sexta à noite, causando a morte de uma mulher, segundo a agência France Presse. De acordo com o governador da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, quatro civis foram mortos e 12 feridos em Sloviansk desde a manhã de sexta-feira.
Ilustrando a questão da guerra de grãos imposta pelo Kremlin, e que preocupa muitos países africanos dependentes do trigo ucraniano para sua segurança alimentar, as forças de Kiev informaram na sexta-feira, com um vídeo de apoio, que tropas russas haviam atacado duas vezes com bombas de fósforo a Ilha das Serpentes, situada no Mar Negro, perto das costas ucraniana e romena, e considerada essencial para controlar o tráfego marítimo, de onde Moscou havia garantido no dia anterior ter se retirado em "sinal de boa vontade".
Na frente diplomática, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dirigindo-se ao Parlamento de Kiev por vídeo, pediu que as reformas anticorrupção sejam aceleradas, como parte da candidatura da Ucrânia à adesão ao bloco. Ela também exortou a aprovação de um projeto destinado a combater "a influência excessiva dos oligarcas na economia", sugerindo a adoção de uma "lei sobre a mídia, que alinha a legislação ucraniana com os padrões da União Europeia".