Combates ferozes aconteciam neste sábado (2) em Lysychansk, que segundo os separatistas pró-Rússia está cercada, embora o exército ucraniano negue e afirme que continua resistindo na cidade mais importante que controla na bacia do Donbass (leste).
"Os combates são intensos em torno de Lysychansk. Felizmente, a cidade não está cercada e está sob o controle do exército ucraniano", disse o porta-voz da Guarda Nacional ucraniana, Ruslan Muzychuk.
Um representante da "milícia popular de Luhansk" havia assegurado pouco antes que esta força separatista e as tropas russas "ocuparam as últimas posições estratégicas, o que nos permite afirmar que a cidade de Lysychansk está completamente cercada".
Além disso, a Ucrânia denunciou o "terror russo deliberado" e renovou os pedidos por sistemas antimísseis ocidentais após ataques mortais na região de Odessa.
Segundo autoridades militares e civis ucranianas, pelo menos 21 pessoas, incluindo um menino de 12 anos, foram mortas na sexta-feira por três mísseis russos que destruíram "um grande edifício" e "um complexo turístico" em Serhiivka, uma cidade na costa do Mar Negro, a cerca de 80 km de Odessa, no sul da Ucrânia.
"Isso é terror russo deliberado e não erros ou um ataque acidental com mísseis", denunciou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na noite de sexta-feira, enquanto as autoridades locais asseguraram que "não havia qualquer alvo militar" no local dos ataques.
Em resposta às acusações ucranianas, o Kremlin garantiu que "as forças armadas da Rússia não operam contra alvos civis" na Ucrânia, uma reação descrita como "desumana e cínica" por Berlim.
De acordo com Kiev, os ataques em Serhiivka feriram 38 pessoas, incluindo cinco crianças, duas delas em estado grave.
"Peço aos nossos parceiros que forneçam à Ucrânia sistemas de defesa antimísseis o mais rápido possível. Ajudem-nos a salvar vidas", implorou o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kouleba, chamando a Rússia de "Estado terrorista".
"Perdas pesadas"
De acordo com o exército ucraniano, os projéteis usados contra Serhiivka foram mísseis de cruzeiro soviéticos datados da Guerra Fria e projetados para atacar porta-aviões, do mesmo tipo daqueles que atingiram um shopping center em Kremenchuk (centro da Ucrânia) em plena luz do dia na segunda-feira matando pelo menos 19 pessoas.
Zelensky reconheceu que a situação continua "extremamente difícil" em Lysytchansk, onde a maior parte dos combates está concentrada e onde os russos "tentam cercar" o exército ucraniano "pelo sul, leste e oeste", segundo o governador local, Serguiï Gaïdaï.
Na sexta-feira, o ministério da Defesa russo anunciou que suas forças "chegaram na entrada de Lysytchansk" e infligiram "pesadas perdas" ao exército ucraniano.
Lysytchansk é a última grande cidade que ainda não está nas mãos dos russos na região de Luhansk, uma das duas províncias do Donbass.
Cerca de sessenta quilômetros mais a oeste, em Sloviansk, uma cidade do Donbass não muito distante das de Izium e Lyman já nas mãos das forças russas, um ataque com foguetes atingiu casas habitadas na sexta à noite, causando a morte de uma mulher que estava em seu jardim e ferindo o marido, informou uma vizinha a um jornalista da AFP.
De acordo com o governador da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, quatro civis foram mortos e 12 feridos em Sloviansk desde a manhã de sexta-feira.
"Foguetes dia e noite"
Sloviansk vem sofrendo disparos diurnos e noturnos de foguetes há pelo menos uma semana, atingindo áreas residenciais.
Respondendo às demandas ucranianas por armas adicionais, o Pentágono anunciou na sexta-feira US$ 820 milhões em nova ajuda militar para Kiev, incluindo até 150.000 projéteis de 155 mm, novos mísseis para os lançadores múltiplos de foguetes Himars, que chegaram recentemente ao campo de batalha, bem como sistemas de defesa antiaérea NASAMS.
A Noruega, por sua vez, anunciou uma ajuda sob a forma de uma doação de cerca de 960 milhões de euros, que permitirá a Kiev comprar armas.
Perante o bloqueio marítimo que lhe é imposto pela Rússia e que a impede de exportar o seu trigo, a Ucrânia pediu na sexta-feira à Turquia que interceptasse um cargueiro russo que saiu do porto de Berdiansk, na zona ocupada, e suspeito de transportar milhares de toneladas de grãos roubados por Moscou.
Ilustrando a questão da guerra de grãos imposta por Moscou e que preocupa muitos países africanos que dependem do trigo ucraniano para sua segurança alimentar, o exército ucraniano afirmou na sexta-feira, com um vídeo de apoio, que o exército russo havia bombardeado duas vezes com bombas de fósforo a Ilha das Serpentes, uma ilhota no Mar Negro perto das costas ucraniana e romena e essencial para controlar o tráfego marítimo, de onde Moscou havia garantido no dia anterior ter se retirado em "sinal de boa vontade".
Kiev, por sua vez, afirma que os russos foram expulsos por repetidos ataques ucranianos.
Na frente diplomática, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dirigindo-se ao parlamento de Kiev por vídeo na sexta e pediu que acelere suas reformas anticorrupção, como parte da candidatura da Ucrânia à adesão ao bloco.
Ela também saudou a aprovação de uma lei destinada a combater "a influência excessiva dos oligarcas na economia" e pediu a adoção de uma "lei sobre a mídia, que alinha a legislação ucraniana com os padrões da União Europeia".