O governo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson, já enfraquecido por vários escândalos, enfrenta uma nova dor de cabeça após a renúncia de um integrante do Executivo acusado de apalpar outros homens, o mais recente de uma série de casos similares dentro do Partido Conservador.
A notícia é péssima para o primeiro-ministro conservador após uma semana no exterior, com participações em três reuniões de cúpula, nas quais se afastou das dificuldades políticas internas enquanto se apresentava como grande apoiador da Ucrânia contra a Rússia de Vladimir Putin.
A crise social no Reino Unido é cada vez mais intensa com o aumento da inflação e, depois do "partygate", agora ele enfrenta um novo obstáculo.
Na carta de renúncia com data de quinta-feira, o "whip" Chris Pincher - responsável pela disciplina parlamentar dos deputados conservadores - admite que bebeu "demais" e pede desculpas pela "vergonha" que passou e provocou em outras pessoas.
De acordo com a imprensa britânica, o político de 52 anos foi acusado de apalpar dois homens - incluindo um deputado -, diante de testemunhas em um clube privado do centro de Londres, o Carlton Club, o que provocou reclamações ao partido.
A recente série de casos de caráter sexual no partido que governa o país há 12 anos é constrangedora.
Um deputado suspeito de estupro, que não foi identificado, foi detido e depois libertado sob fiança em maio. No mês anterior, outro deputado conservador renunciou depois que foi flagrado assistindo um vídeo pornô em seu smartphone na Câmara dos Comuns. E um ex-deputado foi condenado em maio a 18 meses de prisão por agressão sexual contra um adolescente de 15 anos.
Nos últimos dois casos, os deputados renunciaram, o que provocou eleições legislativas parciais e derrotas para os conservadores nas urnas. Com os resultados das urnas, o presidente do partido, Oliver Dowden, deixou o cargo.
Degradação
Embora Pincher tenha renunciado ao cargo no partido, ele permanece como deputado, segundo o jornal The Sun, porque teria reconhecido seus erros.
"O primeiro-ministro aceitou a renúncia e acha que foi certo ele renunciar", disse o porta-voz adjunto de Johnson. "(Ele) acha que esse tipo de comportamento é inaceitável e encorajaria aqueles que desejam fazer uma reclamação a fazê-lo", acrescentou.
Mas diante dos pedidos de expulsão do partido e para uma investigação interna, a pressão aumenta sobre Boris Johnson para que adote medidas mais firmes.
"É impossível que os conservadores ignorem uma possível agressão sexual", tuitou Angela Rayner, a número dois do Partido Trabalhista, principal grupo de oposição.
"Boris Johnson tem sérias perguntas a responder sobre como Chris Pincher recebeu esse papel e como ele pode continuar sendo um parlamentar conservador", acrescentou, antes de criticar a "degradação total das normas da vida pública" no governo do primeiro-ministro.
O governo de Boris Johnson também foi abalado pelo escândalo das festas celebradas em Downing Street, apesar das restrições determinadas pelo governo durante a pandemia de covid. O caso provocou um voto de desconfiança dentro do Partido Conservador, mas ele conseguiu sobreviver.
Nomeado em fevereiro, Chris Pincher já havia renunciado como "whip júnior" em 2017, acusado de ter feito propostas sexuais a um atleta olímpico e potencial candidato conservador nas eleições. Ele foi absolvido após uma investigação interna.
Reincorporado pela ex-primeira-ministra Theresa May, ele passou a trabalhar para o ministério das Relações Exteriores como secretário de Estado quando Boris Johnson chegou ao poder em julho de 2019.
A polícia de Londres informou que não foram apresentadas denúncias de agressão no Carlton Club.