França

Macron ignora críticas e recebe príncipe saudita

Macron saudou o homem suspeito de ordenar o assassinato de Khashoggi com um longo aperto de mãos, antes de um jantar oficial na sede do governo

Correio Brazilense
postado em 29/07/2022 06:00
 (crédito: Bertrand Guay/AFP)
(crédito: Bertrand Guay/AFP)

Foi em francês que Hatice Cengiz — noiva de Jamal Khashoggi, o jornalista esquartejado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul — se pronunciou sobre o encontro entre o presidente da França, Emmanuel Macron, e o príncipe saudita Mohammed bin Salman, em Paris. "Estou escandalizada e indignada com o fato de o carrasco de meu noivo ser recebido com grande alarde no Palácio do Eliseu. É uma vergonha!", escreveu a pesquisadora turca em seu perfil no Twitter. Macron saudou o homem suspeito de ordenar o assassinato de Khashoggi com um longo aperto de mãos, antes de um jantar oficial na sede do governo. 

O primeiro giro europeu de MBS (como o líder saudita é conhecido popularmente) desde a morte do jornalista ocorre cerca de duas semanas após a viagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à Arábia Saudita. Organizações de defesa dos direitos humanos criticaram o que chamaram de "reabilitação internacional" do príncipe saudita. "O presidente levantará o tema dos direitos humanos, como o faz em cada ocasião com Mohamed bin Salman", afirmou um assessor de Macron, sob a condição de anonimato, ao acrescentar que "o líder francês falará de maneira geral, mas também aproveitará para levantar casos individuais".

Agnès Callamard, ex-relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais que investigou a morte de Khashoggi e secretrária-geral da Anistia Internacional, afirmou que "a visita de MBS à França, ou a visita de Joe Biden à Arábia Saudita, não muda em nada o fato de que ele é um assassino". 

Denúncia

Coincidindo com a visita, várias ONGs — entre elas a Democracy for the Arab World Now (Dawn), criada por Khashoggi —  apresentaram, ontem, uma denúncia em Paris contra Bin Salman por cumplicidade em torturas e desaparecimento forçado. "O jornalista saudita havia pedido que se devolvesse ao reino sua 'dignidade', pondo fim à 'cruel' guerra no Iêmen e, além disso, tinha denunciado as novas ondas de detenções" na Arábia Saudita em 2017, após a ascensão do príncipe herdeiro, lembrou a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF). 

"Aparentemente, Bin Salman pode contar com Macron para reabilitá-lo no cenário internacional, apesar da morte atroz de Khashoggi, a repressão implacável das autoridades sauditas a críticos e os crimes de guerra no Iêmen", lamentou Bénédicte Jeannerod, da Human Rights Watch. 

Colaborador do jornal The Washington Post e crítico de Riad, Khashoggi foi morto por agentes sauditas no consulado do país em Istambul, em 2018. Foi estrangulado e desmembrado. Uma investigação da ONU responsabilizou a Arábia Saudita pela "execução extrajudicial".

Prioridade

Macron se reuniu com Bin Salman na Arábia Saudita em dezembro de 2021. Nos últimos dias, também recebeu em Paris dois líderes aliados da Arábia Saudita: o egípcio Abdul Fatah al-Sissi e Mohamed bin Zayed, dos Emirados Árabes Unidos. "A guerra na Ucrânia colocou os países produtores de energia de volta no centro do tabuleiro, e eles estão tirando vantagem disso", comentou a pesquisadora Camille Lons, adora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).

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