Londres, Reino Unido- Após a dramática renúncia de Boris Johnson, a corrida começou no Reino Unido, nesta sexta-feira (8/7), para substituí-lo como líder do Partido Conservador e, por conseguinte, como primeiro-ministro, cargo no qual se mostrou determinado a permanecer até seu sucessor ser designado.
O calendário destas longas e complexas eleições internas, que costumam durar vários meses, será anunciado na próxima semana.
Na dianteira, o deputado conservador Tom Tugendhat, presidente do comitê parlamentar de Relações Exteriores e muito crítico de Johnson, assim como a procuradora-geral, Suella Braveman, já anunciaram sua candidatura.
Uma pesquisa da consultoria YouGov feita com eleitores conservadores colocou o ministro da Defesa, Ben Wallace, e a secretária de Estado de Comércio Internacional, Penny Mordaunt, entre os favoritos.
Até o momento, porém, nenhum deles oficializou sua participação na corrida para se tornar o próximo inquilino de Downing Street.
Foi precisamente em frente à famosa porta preta da residência oficial do chefe de governo que Johnson anunciou ontem que, diante de uma pressão interna insuportável, renunciava à liderança da formação do governo.
"É claramente a vontade do grupo parlamentar conservador que haja um novo líder do partido e, portanto, um novo primeiro-ministro", reconheceu, sem pronunciar a palavra "renúncia" em momento algum.
Ele também afirmou que permanecerá como primeiro-ministro até que seu partido realize eleições internas no verão boreal (inverno no Brasil) para designar um novo líder antes de seu congresso anual em outubro. Quem for eleito será primeiro-ministro, automaticamente, até as próximas eleições legislativas, previstas para 2024.
- Pressão para renúncia imediata -
Uma das figuras do Partido Conservador, o ex-primeiro-ministro John Major, levantou imediatamente a voz contra uma situação "insustentável".
"Pelo bem do país, Johnson não deve permanecer em Downing Street (...) mais tempo do que o necessário", defendeu, sugerindo que o vice-primeiro-ministro Dominic Raab assuma como chefe de governo interino.
Esta possibilidade foi descartada nesta sexta pelo porta-voz de Downing Street, que disse aos jornalistas que Johnson "continua sendo primeiro-ministro até que haja um novo líder do partido, e o trabalho do governo continuará, enquanto isso ocorrrer".
Se os conservadores não expulsarem Johnson imediatamente, a principal força de oposição lançará uma moção de censura contra o Executivo, ameaçou a número dois do Partido Trabalhista, Angela Rayner.
"É um mentiroso provado, mergulhado na corrupção, e não podemos viver com isso por mais dois meses", disse ela à rede BBC.
O Partido Trabalhista se viu legitimado, nesta sexta, depois que a polícia anunciou que tanto Rayner quanto seu número um, Keir Starmer, foram isentados em uma investigação sobre se haviam infringido as normas anticovid-19 com um jantar de trabalho durante a campanha eleitoral de abril de 2021.
Considerando-se que a saída de Johnson é insuficiente e que se faz necessária "uma verdadeira mudança de governo", o líder trabalhista Keir Starmer disse avaliar a possibilidade de apresentar uma moção de censura contra o Executivo, na tentativa de precipitar a convocação de eleições antecipadas - algo muito prejudicial para os conservadores no momento.
Ainda de acordo com pesquisa do YouGov, 56% dos britânicos concordam em que Johnson deve deixar o poder agora, em meio a rumores de que está se apegando ao cargo para fazer uma luxuosa festa de casamento no final do mês em Chequers, residência de campo dos primeiros-ministros. A festa seria agora, porque ele se casou em maio de 2021, quando as restrições pela pandemia da covid-19 seguiam em vigor.
- A pressão venceu -
Johnson resistiu durante dias aos pedidos de demissão, mas acabou cedendo na quinta-feira (7), quando cerca de 60 membros de seu governo já haviam renunciado, em uma sangria iniciada na terça-feira com dois pesos pesados: os então ministros das Finanças, Rishi Sunak, e o da Saúde, Sajid Javid.
Durante meses, graças à sua determinada ajuda à Ucrânia contra a invasão russa, o polêmico primeiro-ministro conseguiu diluir a lembrança dos inúmeros escândalos de seu governo.
No início de junho, contudo, enfrentou um voto de desconfiança de deputados de sua própria fileira. Sobreviveu, graças ao apoio de 211 de seus 359 legisladores, mas os 148 votos contra ele deixaram claro que a insatisfação não parava de crescer.
Vários reveses eleitorais - os mais recentes deles em duas disputas legislativas parciais em 23 de junho - convenceram um número crescente de deputados conservadores de que Johnson não poderia mais liderá-los para a próxima corrida eleitoral.
Campeão das eleições de 2019, quando conquistou a maioria conservadora mais importante em décadas graças à promessa de concretizar o Brexit, o primeiro-ministro está há meses caindo nas pesquisas.
De acordo com as pesquisas, a maioria dos britânicos considera Boris Johnson um "mentiroso".
Do chamado "Partygate" - o escândalo das festas organizadas em Downing Street durante os confinamentos de 2020 e 2021 pela pandemia - ao financiamento irregular da luxuosa reforma de sua residência oficial, passando por acusações de favorecimento, os escândalos não param.
As renúncias de Javid e Sunak ocorreram na terça-feira, horas depois que Johnson ter-se desculpado pela enésima vez, reconhecendo que cometeu um "erro" ao nomear Chris Pincher para um importante cargo parlamentar. Na semana passada, este último renunciou à posição, acusado de assediar dois homens fisicamente, um deles deputado.
Após afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu que o primeiro-ministro foi informado em 2019 das acusações anteriores contra Pincher, mas que havia se "esquecido" delas.
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