Ucrânia

Em meio à guerra na Ucrânia, guardiões cuidam das casas dos deslocados

Muitos de meus amigos que partiram me pediram que passasse em suas casas para ver se estavam intactas, se as janelas e as portas ainda estavam no lugar", conta o homem de 37 anos

Agence France-Presse
postado em 05/07/2022 15:38
Ievgen visita as propriedades que estão sob sua responsabilidade e faz isso voluntariamente. -  (crédito: MIGUEL MEDINA / AFP)
Ievgen visita as propriedades que estão sob sua responsabilidade e faz isso voluntariamente. - (crédito: MIGUEL MEDINA / AFP)

Ievgen Yelpitiforov acumula 19 molho de chaves em seus bolsos, já que desde o início da invasão russa contra a Ucrânia começou a cuidar das casas e apartamentos de seus amigos que fugiram do conflito.

Ao volante de um velho carro azul, Ievguen percorre às ruas de Irpin e Bucha, nos arredores de Kiev, para velar por suas "propriedades".

As forças russas se retiraram da região no final de março, após uma ocupação que foi particularmente devastadora. Pouco depois, seus serviços começaram a ser solicitados.

"Muitos de meus amigos que partiram me pediram que passasse em suas casas para ver se estavam intactas, se as janelas e as portas ainda estavam no lugar", conta este homem de 37 anos.

Então, começou a receber chaves, às vezes por correio, outras vezes por meio de vizinhos. Algumas vezes, lhe agradecem com café e chocolates.

Ievgen visita as propriedades que estão sob sua responsabilidade e faz isso voluntariamente.

Em seus deslocamentos, ele rega as flores, esvazia as geladeiras, às vezes envia os pertences aos donos e outras vezes simplesmente acende e apaga as luzes "para mostrar que alguém está lá" e afugentar os ladrões.

Aqueles que se atrevem a retornar encontram um presente de boas-vindas preparado por Ievgen.

Às vezes, um buquê de flores ou algumas cerejas para fazê-los se sentirem "felizes", diz o jovem que ganha a vida como jardineiro.

"Se eu estivesse no lugar deles, sei que me ajudariam", afirma.

Em Bucha, o subúrbio vizinho de Irpin que se tornou um símbolo dos crimes cometidos durante a ocupação russa, ele estaciona seu carro em frente a um complexo de prédios incrivelmente novos, mas marcados pela guerra. Nenhum apartamento tem vidros nas janelas. Todos explodiram.

No estacionamento, as carcaças de carros se acumulam sob os escombros.

Ievgen não perde tempo. Ele tem que regar algumas plantas em um pequeno apartamento de alguns amigos. No local, quase não há resquícios do conflito, exceto por uma mensagem em uma parede deixada pelos militares russos: "Desculpe por arrombar a porta".

Em Irpin, Ievgen entra em um prédio que está intacto. Ao lado há uma escola que perdeu o teto no bombardeio. Em um duplex, ele filma as plantas dos donos com o celular.

Do lado de fora, para em frente a uma casa da qual nada resta além das paredes carbonizadas. Enquanto os trabalhadores refazem o telhado, o jovem olha para um cedro bastante danificado pelas chamas.

"Isso me faz pensar no povo ucraniano", confessa com um ar pensativo. "Por um lado está queimado, por outro tem força para continuar crescendo e ficar verde novamente", diz.

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