"Estamos destruídos. É o nosso único menino, o filho mais velho", desabafou ao Correio Cleuza Marisah Rodrigues Búrigo, 60 anos. Professora em São José dos Ausentes (RS), ela fala sobre Douglas Búrigo, 40, no tempo presente. Cleuza e o marido, o médico veterinário Pedro Elson Vieira Búrigo, 71, souberam da morte do primogênito por meio do perfil do Instagram de um amigo de Douglas. "Morreu, morreu, morreu", publicou na rede social, com a foto do brasileiro. Às 14h30 do último sábado, o comandante do batalhão de Douglas fez uma chamada de vídeo para a família, por meio da qual confirmou a morte dele e da também brasileira Thalita do Valle, 39, modelo e atiradora de elite que morava em São José dos Campos (SP). Os dois combatiam as tropas da Rússia na Ucrânia e foram surpreendidos por um bombardeio com mísseis na cidade de Kharkiv (leste).
Para a mãe, a atitude de Douglas ao morrer foi a de um herói. "Ele voltou para salvar Thalita, sem pensar nas consequências. Um gesto bem típico da personalidade dele", desabafou. Segundo Cleuza, o comandante contou à família do gaúcho que ele e Thalita estavam um local que foi incendiado depois de ser atingido por um míssil. "O Douglas percebeu que a menina não havia deixado o prédio e voltou para retirá-la. Foi quando outro míssil caiu, e nenhum deles mais saiu." Thalita e Douglas se conheceram no dia em que ele se preparava para viajar a Kiev. "Eles ficaram de se encontrar na capital. Thalita chegou à Ucrânia duas semana depois." Douglas embarcou para a Ucrânia em 24 de maio. "Meu filho disse-nos que não iria a combate, mas para fazer serviço humanitário. Tentamos convencê-lo a desistir", afirmou Cleuza.
O último contato do combatente gaúcho com os pais ocorreu em 27 de junho. "Às 10h30, ele nos enviou uma mensagem dizendo que ficaria um tempo sem comunicação, pois iria para o front. Depois, meu genro recebeu uma mensagem de voz, em que Douglas falava que tinha medo e que a situação estava ficando feia", acrescentou a mãe. A família Búrigo faz um apelo ao Itamaraty. "Precisamos do corpo, de algo para nos despedir dele", disse a professora. "Contamos com o apoio de todos para que se agilize o translado do corpo do meu filho. Parece um pesadelo que vai acabar e ele chegará em casa."
"O Douglas era uma pessoa de coração enorme, que se preocupava com todos. Era muito inteligente e aprendia as coisas muito rapidamente. Também gostava de churrasco e de estar com a família e os amigos". afirmou o pai, Pedro Elson. Em 5 de junho, outro brasileiro, André Hack Bahi, 44, morreu durante confronto em Sieverodonetsk, no leste.
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