Hong Kong

Apesar da repressão, Xi Jinping diz que "a democracia tem florescido" em Hong Kong

Presidente chinês empossa novo chefe do Executivo. Em discurso para marcar os 25 anos da devolução da ex-colônia britânica ao domínio de Pequim, ele garante que a verdadeira democracia começou e defende a política "um país, dois sistemas"

Rodrigo Craveiro
postado em 02/07/2022 06:00
 (crédito: Selim Chtayty/AFP)
(crédito: Selim Chtayty/AFP)

No 25º aniversário da devolução de Hong Kong, antiga colônia do Reino Unido, ao controle férreo do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente Xi Jinping empossou o novo chefe executivo do território, John Lee, e assegurou que a democracia tem florescido no local, apesar da forte repressão. De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, Xi também enfatizou a necessidade da implementação "plena" e "fiel" da política "um país, dois sistemas" — os sistemas capitalista e comunista convivendo em uma única China.

"Depois de reunificar-se com a pátria mãe, os habitantes de Hong Kong se tornaram os mestres de sua própria cidade. (...) A verdadeira democracia de Hong Kong começou neste momento", declarou Xi, que havia visitado a metrópole pela última vez em 2017. Ele fez questão de frisar que Pequim sempre agiu "pelo bem de Hong Kong". 

Xi também defendeu a adoção do princípio dos "patriotas administrando Hong Kong". Ao se reunir com Lee, ele afirmou ter total confiança nele e no novo governo da ex-colônia britânica. "Temos total confiança no futuro de Hong Kong", afirmou. O presidente considerou cruciais os cinco próximos anos para Hong Kong e expressou esperanças de fortalecimento da governança e do desenvolvimento. 

As comemorações externas  em homenagem à data não contaram com a presença de Xi. Houve o hasteamento da bandeira e a passagem de aviões militares e de uma flotilha. Helicópteros da Força Aérea do Exército Popular de Libertação também fizeram sobrevoo transportando bandeiras de Hong Kong e da China.

A imprensa local informou que Xi preferiu pernoitar em Shenzhen, cidade chinesa situada a 50km de Hong Kong, e retornar na manhã de ontem ao território semiautônomo. O presidente chinês partiu a bordo de trem-bala rumo à China continental. Crianças se despediram do líder do PCC com flores, bandeiras e canções.

Eleições diretas

Em entrevista ao Correio, Fengsuo Zhuo — sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989 e opositor ao governo chinês — ironizou a declaração de Xi Jinping. "O que o Partido Comunista Chinês tem feito a Hong Kong é um alerta para o mundo. Se não for parado, o próximo alvo poderá ser Taiwan e outros locais que o PCC desejar", afirmou. "A verdadeira democracia em Hong Kong somente pode começar com eleições diretas e universais."

De acordo com Fengsuo, Pequim escolheu a dedo John Lee como capanga para fazer uma oferta contra a vontade do povo de Hong Kong. "Os verdadeiros patriotas são os presos políticos, como Jimmy Lai, Joshua Wong, Hang-tung Chow, Albert Ho e Cheuk-Yan Lee, que lutam por uma Hong Kong democrática."

Fundador da ONG Hong Kong Liberty e ativista no exílio, Finn Lau disse à reportagem que o Reino Unido introduziu reformas democráticas e concedeu às colônias o direito à autodeterminação após a Segunda Guerra Mundial. "Hong Kong foi a exceção. Os líderes do Partido Comunista Chinês ameaçaram o governo britânico com consequências militares, caso levassem a democracia à cidade. Em essência, foi Pequim que apequenou a democracia de Hong Kong."

Para Lau, a visita de Xi Jinping é uma manobra simbólica. "Ela mostra a urgência e a ambição do Partido Comunista Chinês para controlar completamente Hong Kong. Nós podemos prever que o novo chefe de governo, John Lee, seguirá estritamente as ordens de Xi, em vez de salvaguardar a autonomia de Hong Kong sob a Declaração Conjunta Sino-Britânica.

"Na quinta-feira, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, prometeu "não abandonar" Hong Kong. "Há 25 anos, fizemos uma promessa ao território e a seu povo e temos a intenção de cumpri-la, de fazer todo o possível para que (...) Hong Kong volte a ser gerido por e para seus habitantes", disse Johnson.

 


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Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

"Ao suprimir as liberdades de Hong Kong e prender centenas de dissidentes com a Lei de Segurança Nacional, Xi Jinping transformou Hong Kong em áreas como Xinjiang e Tibete. A outrora brilhante pérola da Ásia das liberdades e da sociedade civil foi reduzida a cinzas, forçando centenas de milhares ao exílio. Hong Kong renascerá somente depois que o regime do Partido Comunista Chinês for derrubado com a democratização da China."

Fengsuo Zhuo, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial e opositor de Pequim 

 

Hipertexto - Controle pela Lei de Segurança Nacional

Em 30 de junho de 2020, a China aprovou a polêmica Lei de Segurança Nacional para a ex-colônia britânica — o texto pune com penas severas a subversão, a secessão, o terrorismo e o conluio com forças estrangeiras. Desde a adoção da legislação, a oposição foi anulada e várias figuras pró-democracia se viram forçadas a abandonar Hong Hong, foram afastadas do poder ou detidas. Em 27 de agosto do mesmo ano, as autoridades da metrópole financeira vetaram 12 candidatos pró-democracia, impedindo-os de disputar as eleições para o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local).

 

 


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