No 25º aniversário da devolução de Hong Kong, antiga colônia do Reino Unido, ao controle férreo do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente Xi Jinping empossou o novo chefe executivo do território, John Lee, e assegurou que a democracia tem florescido no local, apesar da forte repressão. De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, Xi também enfatizou a necessidade da implementação "plena" e "fiel" da política "um país, dois sistemas" — os sistemas capitalista e comunista convivendo em uma única China.
"Depois de reunificar-se com a pátria mãe, os habitantes de Hong Kong se tornaram os mestres de sua própria cidade. (...) A verdadeira democracia de Hong Kong começou neste momento", declarou Xi, que havia visitado a metrópole pela última vez em 2017. Ele fez questão de frisar que Pequim sempre agiu "pelo bem de Hong Kong".
Xi também defendeu a adoção do princípio dos "patriotas administrando Hong Kong". Ao se reunir com Lee, ele afirmou ter total confiança nele e no novo governo da ex-colônia britânica. "Temos total confiança no futuro de Hong Kong", afirmou. O presidente considerou cruciais os cinco próximos anos para Hong Kong e expressou esperanças de fortalecimento da governança e do desenvolvimento.
As comemorações externas em homenagem à data não contaram com a presença de Xi. Houve o hasteamento da bandeira e a passagem de aviões militares e de uma flotilha. Helicópteros da Força Aérea do Exército Popular de Libertação também fizeram sobrevoo transportando bandeiras de Hong Kong e da China.
A imprensa local informou que Xi preferiu pernoitar em Shenzhen, cidade chinesa situada a 50km de Hong Kong, e retornar na manhã de ontem ao território semiautônomo. O presidente chinês partiu a bordo de trem-bala rumo à China continental. Crianças se despediram do líder do PCC com flores, bandeiras e canções.
Eleições diretas
Em entrevista ao Correio, Fengsuo Zhuo — sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989 e opositor ao governo chinês — ironizou a declaração de Xi Jinping. "O que o Partido Comunista Chinês tem feito a Hong Kong é um alerta para o mundo. Se não for parado, o próximo alvo poderá ser Taiwan e outros locais que o PCC desejar", afirmou. "A verdadeira democracia em Hong Kong somente pode começar com eleições diretas e universais."
De acordo com Fengsuo, Pequim escolheu a dedo John Lee como capanga para fazer uma oferta contra a vontade do povo de Hong Kong. "Os verdadeiros patriotas são os presos políticos, como Jimmy Lai, Joshua Wong, Hang-tung Chow, Albert Ho e Cheuk-Yan Lee, que lutam por uma Hong Kong democrática."
Fundador da ONG Hong Kong Liberty e ativista no exílio, Finn Lau disse à reportagem que o Reino Unido introduziu reformas democráticas e concedeu às colônias o direito à autodeterminação após a Segunda Guerra Mundial. "Hong Kong foi a exceção. Os líderes do Partido Comunista Chinês ameaçaram o governo britânico com consequências militares, caso levassem a democracia à cidade. Em essência, foi Pequim que apequenou a democracia de Hong Kong."
Para Lau, a visita de Xi Jinping é uma manobra simbólica. "Ela mostra a urgência e a ambição do Partido Comunista Chinês para controlar completamente Hong Kong. Nós podemos prever que o novo chefe de governo, John Lee, seguirá estritamente as ordens de Xi, em vez de salvaguardar a autonomia de Hong Kong sob a Declaração Conjunta Sino-Britânica.
"Na quinta-feira, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, prometeu "não abandonar" Hong Kong. "Há 25 anos, fizemos uma promessa ao território e a seu povo e temos a intenção de cumpri-la, de fazer todo o possível para que (...) Hong Kong volte a ser gerido por e para seus habitantes", disse Johnson.
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"Ao suprimir as liberdades de Hong Kong e prender centenas de dissidentes com a Lei de Segurança Nacional, Xi Jinping transformou Hong Kong em áreas como Xinjiang e Tibete. A outrora brilhante pérola da Ásia das liberdades e da sociedade civil foi reduzida a cinzas, forçando centenas de milhares ao exílio. Hong Kong renascerá somente depois que o regime do Partido Comunista Chinês for derrubado com a democratização da China."
Fengsuo Zhuo, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial e opositor de Pequim
Hipertexto - Controle pela Lei de Segurança Nacional
Em 30 de junho de 2020, a China aprovou a polêmica Lei de Segurança Nacional para a ex-colônia britânica — o texto pune com penas severas a subversão, a secessão, o terrorismo e o conluio com forças estrangeiras. Desde a adoção da legislação, a oposição foi anulada e várias figuras pró-democracia se viram forçadas a abandonar Hong Hong, foram afastadas do poder ou detidas. Em 27 de agosto do mesmo ano, as autoridades da metrópole financeira vetaram 12 candidatos pró-democracia, impedindo-os de disputar as eleições para o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local).