Lisboa, Portugal — Sem um investimento maciço em ciência e educação, a vida marítima tende a desaparecer rapidamente. O alerta dominou as discussões da 2ª Conferência Global dos Oceanos, que se encerra nesta sexta-feira (1/07), na capital portuguesa. Os focos devem ser, sobretudo, a mudança produtiva, saindo do plástico, cuja matéria-prima é o petróleo, partindo para uma transição energética de matriz mais limpa, além do fim da pesca predatória. Jovens e mulheres terão papel de destaque nesse processo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Jovens, por não repetirem os erros do passado, e mulheres, por terem visão mais conservacionista e atuarem na pesca artesanal e sustentável.
Em relatório divulgado nesta sexta, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) fez um alerta contundente, ao apontar o avançado estado de degradação de mares e oceanos de todo o planeta. O documento, intitulado “State of the Ocean Report", tem como objetivo mobilizar a sociedade global para agir e acompanhar o progresso rumo a um planeta mais sustentável.
Para a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), “as ações humanas ameaçam mais espécies com a extinção global agora do que nunca". Os ecossistemas marinhos, desde o litoral ao mar profundo, mostram a influência das ações humanas, com os ecossistemas marinhos costeiros já com grandes perdas de extensão e de condição, assim como declínios rápidos em curso.
Segundo a Unesco, há uma falta de referências confiáveis em muitos aspectos do conhecimento dos oceanos. Diante desse quadro, representantes de vários países disseram que não é possível os oceanos ocuparem 70% da superfície do planeta e as pesquisas direcionadas para os mares representarem apenas 1,7% do total. Portanto, alertaram as autoridades em coro: é preciso, mais do que nunca, investir na economia azul, na sustentabilidade da agricultura, da pesca e dos oceanos, responsáveis pela absorção de mais da metade do gás carbônico jogado na atmosfera.
Na avaliação da Unesco, o conhecimento dos oceanos é geralmente capaz de identificar questões, mas não aponta as origens e a extensão dos danos. “Não se pode gerir o que não se pode medir”, diz o documento da entidade. O objetivo global deve ser produzir, anualmente, uma visão geral e breve, acessível e única sobre o estado atual do oceano, e mobilizar a sociedade global para agir no sentido de "o oceano de que precisamos para o futuro que queremos" como uma contribuição para o desenvolvimento sustentável, e, em particular, para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (SDG) 14.
“Não há tempo a perder”, disse Peter Thomson, enviado especial da ONU para os Oceanos. Zhang Zhanhai, enviado especial da China para o evento, engenheiro-chefe do Ministério de Recursos Naturais, acrescentou que é possível uma convivência harmoniosa entre os oceanos e as pessoas. Mas é preciso conscientização, o que passa pela educação. A China aproveitou a Conferência para aderir ao projeto da ONU de transformar 30% dos mares em áreas de proteção até 2030.
A Unesco acredita que seu relatório, com 10 prioridades, ajudará a monitorizar eficazmente o progresso da Década Oceânica da ONU e contribuir para mobilizar a sociedade global em direção ao "oceano que precisamos para o futuro que queremos", afirmou Vladimir Ryabinin, secretário executivo da Unesco para Intergoverna da Comissão Oceanográfica (COI).
No total, até 150 estados-membros trabalharão em conjunto, por meio da coordenação de programas de desenvolvimento de capacitação, observações e serviços oceânicos, ciência oceânica e aviso de tsunamis, avançando soluções baseadas no conhecimento para questões-chave econômicas e sociais.
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