"É parte de um esforço para vender e colocar mais armas nas ruas. Trata-se de dinheiro, não de salvar vidas." O desabafo, em entrevista ao Correio, partiu de Tom Mauser, pai de Daniel Mauser, 15 anos, um dos 13 mortos durante o massacre na Escola Secundária de Columbine, em Littleton (Colorado), em 20 de abril de 1999. Ele se disse "extremamente desapontado" com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que, ontem, reafirmou o direito dos cidadãos de portar armas de fogo em público. Por seis votos contra três, a máxima instância do Judiciário anulou uma lei de Nova York, datada de 1913, que exigia a comprovação da necessidade legítima de defesa pessoal para receber a autorização para porte de armas em público. Com a medida, os estados norte-americanos ficarão impedidos de restringir o direito dos cidadãos de possuirem armas.
Há exatamente um mês, um jovem de 18 anos invadiu a Escola Primária Robb, em Uvalde (Texas), e matou 19 crianças e duas professoras. Dez dias antes, um supremacista branco tinha disparado dentro de um supermercado da cidade de Buffalo (Nova York) e tirado a vida de dez pessoas. O presidente Joe Biden também se declarou "profundamente decepcionado" com a revogação da lei e disse que a medida "contradiz tanto o senso comum como a Constituição".
Foi a primeira decisão da Suprema Corte em uma década sobre Segunda Emenda — o texto constitucional que garante a legítima defesa. A Associação Nacional do Rifle (ANR), o poderoso lobby pró-armas, enalteceu "uma vitória decisiva para os homens e mulheres de bem de todos os EUA". "O direito à legítima defesa e de defender a família e os entes queridos não deve se restringir ao lar", afirmou o vice-presidente executivo Wayne LaPierre.
Para Tom Mauser, a Suprema Corte retirou o direito dos governos estaduais e locais de regularem sua segurança, particularmente em locais com alta densidade populacional e em um momento em que a violência armada aumenta significativamente. "Os Estados Unidos já têm pessoas demais com permissão para carregar armas escondidas, mas não vejo evidências de que isso reduza a violência armada", lamentou. Ele destaca que estudos têm mostrado que os cidadãos que carregam armas são muito mais propensos a ter medo das pessoas ao seu redor. "Eles experimentam uma sensação de que podem precisar intervir para resolver uma situação capaz de se tornar violenta", alertou.
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