Devastado por uma grave crise financeira, humanitária e de infraestrutura, potencializada após a retomada do poder pelo Talibã, em agosto passado, o Afeganistão foi atingido por uma nova tragédia, na madrugada de ontem. Mais de mil pessoas morreram e 1,5 mil ficaram feridas em um terremoto de magnitude 5.9 — com réplica —, que afetou uma área remota e montanhosa situada no leste do país.
Com recursos limitados, equipes de socorro enfrentavam dificuldades de acessar a região e realizar buscas a sobreviventes. Teme-se um número bem maior de vítimas. Sem meios para lidar com a situação, o governo Talibã fez um apelo de ajuda internacional à Organização das Nações Unidas (ONU).
O tremor aconteceu a 10km de profundidade, por volta de 1h30 (18h de terça-feira, no horário de Brasília), segundo informações do Centro Geológico dos Estados Unidos (USGS). Um segundo tremor de 4,5 graus foi registrado na mesma área, perto da fronteira com o Paquistão, onde a população já vive em condições muito precárias.O abalo evidenciou, mais uma vez, a situação de miséria do país da Ásia Central.
"As pessoas cavam e cavam sepulturas", disse Mohammad Amin Huzaifa, secretário de Informação e Cultura da província de Paktika, a mais atingida, ao lado de Khost. Do balanço inicial de mortes, mil foram registradas lá. "E os números estão aumentando", declarou.
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Destruição
"Está chovendo e as casas estão destruídas. Não há lugar para abrigo ou comida. Ainda temos pessoas presas entre os escombros. Precisamos de ajuda imediata", afirmou Huzaifa. Yaqub Manzor, líder tribal de Paktika, disse que muitos feridos são do distrito de Giyan e foram transportados em ambulâncias e helicópteros. "Os mercados locais estão fechados e as pessoas correram para ajudar nas áreas afetadas", declarou à agência de notícias France Presse (AFP).
Fotos de casas destruídas foram divulgadas nas redes sociais. Um vídeo mostrou alguns moradores carregando feridos até um helicóptero. "Grande parte da região é montanhosa e os deslocamentos são difíceis. Vamos precisar de tempo para retirar os falecidos e os feridos", assinalou o ministro de Gestão de Desastres Naturais, Mohamad Abas Akhund.
Desde que os fundamentalistas talibãs reassumiram o poder — o ex-presidente Ashraf Ghani fugiu do país quando os extremistas cercaram a capital, Cabul — a precária situação econômica se deteriorou ainda mais. A comunidade internacional suspendeu ajudas que sustentavam o país e milhões de ativos no exterior foram bloqueados.
Diante disso, os serviços de emergência, limitados há muitos anos em número de funcionários e capacidade, não estão preparados para enfrentar catástrofes de grandes proporções, como a de ontem. "O governo faz o máximo dentro de suas capacidades", tuitou Anas Haqqani, dirigente talibã. "Esperamos que a comunidade internacional e as organizações humanitárias ajudem as pessoas nessa situação terrível", acrescentou.
Segundo o Centro Sismológico da Europa, os dois tremores foram sentidos por aproximadamente 119 milhões de pessoas no Afeganistão, na Índia e no Paquistão, onde um indivíduo morreu e várias casas ficaram danificadas. O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, disse que está "profundamente entristecido" com a tragédia e afirmou que seu governo trabalha para dar apoio aos vizinhos.
Auxílio
A ONU anunciou a mobilização imediata para ajudar nas tarefas de resgate e ajuda. "Devido às fortes chuvas e ao clima excepcionalmente frio, o abrigo de emergência é uma prioridade imediata", informou o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas no Twitter.
O enviado especial da União Europeia (UE) para o Afeganistão, Tomas Niklasson, declarou que o bloco "está disposto a coordenar e fornecer ajuda de emergência". Os Estados Unidos destacaram que estudam "opções de resposta".
O papa Francisco expressou solidariedade às vítimas do terremoto e disse esperar que "com a ajuda de todos o sofrimento do querido povo afegão possa ser aliviado".
O Afeganistão registra terremotos com frequência, em particular na região de Hindu Kush, na união das placas tectônicas eurasiática e indiana. As consequências podem ser devastadoras devido à pouca resistência das casas rurais afegãs. Em outubro de 2015, um terremoto de 7,5 graus nas montanhas de Hindu Kush deixou mais de 380 mortos nos dois países.