Era tudo o que Emmanuel Macron não esperava. Com 246 cadeiras na Assembleia Nacional Francesa, a coalizão presidencial de centro-direita Juntos! perdeu a maioria absoluta (de 289 assentos), após o segundo turno das eleições legislativas. "Foi um fracasso total do presidente. Conseguimos o objetivo que nos propusemos em menos de um mês: derrubar o homem que, com tanta arrogância, torceu o braço de todo o país", reagiu Jean-Luc Melenchón, cuja aliança da esquerda radical Nupes se preparava para se tornar a principal força da oposição no Parlamento, com 142 deputados. O alto índice de abstenção chamou a atenção: 53,08%¨dos 48,7 milhões de franceses não foram votar.
Na noite de ontem, a primeira-ministra Élisabeth Borne advertiu que o resultado do pleito representa um "risco" para a França e prometeu começar a trabalhar por uma maioria de ação parlamentar a partir de hoje. "Não há alternativa a esta união para garantir a estabilidade" do país, disse.
A surpresa ficou por conta do partido ultraconservador Reagrupamento Nacional, com 89 assentos, que esperava apenas entre 20 e 50. A sua líder, Marine Le Pen, celebrou o que seria a conquista "do maior grupo parlamentar de extrema-direita da história" e classificou o resultado nas urnas como um "tsunami". "Além de um grupo parlamentar histórico, continuaremos o trabalho de reunir o povo francês, dentro de um grande movimento popular", disse Le Pen.
Jean-Yves Camus — cientista político do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), em Paris — explicou ao Correio que a perda de maioria parlamentar de Macron indica uma clara refutação por parte dos eleitores de Macron. "Muitos líderes da coalizão Juntos! também saíram derrotados. A manobra política mais provável, por parte de Macron, é que ele tentará uma maioria ao se abrir para a direita conservadora dos Republicanos", observou. "O Reagrupamento Nacional obteve uma vitória inesperada, e a palavra 'tsunami' é correta. Le Pen falou agora há pouco na televisão e anunciou o surgimento de uma nova geração de parlamentares, que virão ao poder quando Macron sair. Isso tem que ser levado a sério", advertiu Camus. (RC)