Quando o britânico Mark Murray contar ao Papa Francisco sobre o abuso sexual que sofreu quando adolescente em um seminário, ele só quer que o Papa ouça.
"Não quero um pedido de desculpas, quero que eles me escutem", diz Murray, hoje com 65 anos, à BBC News. "Um pedido de desculpas forçado não é verdadeiro."
Murray é um dos sete homens que sofreram abuso sexual quando jovens no St. Peter Claver College, no norte da Inglaterra, e que vão participar de uma reunião com o Papa em particular na manhã desta segunda (12/6).
Murray sofreu repetidos abusos de um padre no antigo seminário (escola preparatória para padres) para jovens e adolescentes entre 1969 e 1974. Quando ingressou na instituição, ele tinha 13 anos.
O britânico é um dos 11 ex-seminaristas que aceitaram um acordo coletivo de 120 mil libras durante um processo sobre abusos sofridos nas décadas de 1960 e 1970.
Os homens também receberam um pedido de desculpas do bispo de Leeds. Agora eles devem compartilhar seus testemunhos com o Papa Francisco, depois que o órgão responsável por lidar com o abuso sexual infantil na Igreja Católica ajudou a organizar o encontro.
Anos de psicoterapia
"Minha declaração será mais pessoal — o que a forma como a Igreja lidou com o caso fez comigo como pessoa e com minha família", diz Murray, que hoje é pai de dois filhos.
"Lidei com a questão do abuso que sofri quando criança ao longo de anos de psicoterapia. Mas lidar com a resposta de algumas instituições em relação a mim é ainda mais difícil."
Murray disse que não conseguiu falar sobre os abusos sofridos por mais de 20 anos. Em 1995, no entanto, ele conseguiu tomar coragem para iniciar uma ação civil para lutar por um reconhecimento sobre o que aconteceu.
"Os combonianos (a ordem que administrava o seminário onde o abuso aconteceu) sabiam o que aconteceu, mas nunca haviam admitido", diz Murray sobre a motivação para o processo.
"Esse encontro não deveria estar acontecendo agora, deveria ter acontecido décadas atrás. Se a Ordem Comboniana tivesse me ouvido de verdade em 1995, isto poderia já ter sido resolvido", diz.
"Nós não queríamos que o que aconteceu conosco acontecesse com outras pessoas. Então pressionamos por uma reunião com a pessoa no topo da hierarquia da Igreja Católica."
O cardeal Vincent Nichols, chefe da Igreja Católica Romana na Inglaterra e no País de Gales também participa da reunião nesta segunda. Nichols foi recentemente criticado pela forma como lidou com um escândalo de abuso sexual infantil na igreja.
O bispo de Leeds, Marcus Stock, em cuja diocese se situava a instituição onde os abusos aconteceram, também estará na reunião, depois de ter oferecido às vítimas um pedido de desculpas "sincero e sem reservas" no ano passado.
O bispo pediu desculpas pela "dor e trauma vividos quando (Murray) era estudante e pelo sofrimento espiritual e angústia emocional que continuam a afetá-lo até hoje".
Os membros do Grupo de Sobreviventes Combonianos, que sofreram o abuso, esperam que a visita ao Papa os ajude em seu processo de cura, mas dizem que ainda querem justiça.
Pedido de Desculpas
A congregação que administrava o seminário hoje é conhecida como Missionários Combonianos, mas já foi chamada de Filhos do Sagrado Coração de Jesus e conhecida como Padres de Verona. A missão foi fundada em 1867 pelo italiano Daniele Comboni como um grupo clerical masculino aprovado pela Igreja Católica.
O grupo pediu esculpas publicamente "por qualquer abuso sofrido por ex-seminaristas" e acrescentaram que "reconhecem o dano causado pelo abuso infantil".
"Foi com grande tristeza e pesar que soubemos das alegações de abusos não recentes relativos ao nosso antigo seminário júnior que fechou em 1984", disse um porta-voz dos Missionários Combonianos.
"Trabalhamos duro para responder com seriedade e sensibilidade às reclamações e reivindicações feitas, apoiamos e cooperamos totalmente com a investigação independente sobre abuso sexual infantil — e estamos trabalhando com uma respeitada instituição de caridade especializada para fornecer aconselhamento e facilitar reuniões".
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A Agência Católica de Padrões de Salvaguarda (CSSA) disse que fará "tudo ao seu alcance" para ajudar com "qualquer questão de abuso e sofrimento relacionados à Igreja".
"Estamos cientes das preocupações dos sobreviventes e estamos ativamente engajados com eles e com os representantes da Ordem para reuni-los e abordar essas preocupações", disse o presidente da CSSA, Nazir Afzal.