A nove dias do segundo turno das eleições presidenciais colombianas, o engenheiro milionário Rodolfo Hernández, candidato da extrema-direita, chegou a cancelar todas as atividades públicas e denunciou que corre perigo de morte. Por volta das 18h20 de ontem (hora de Brasília), Hernández divulgou um vídeo, no Twitter, por meio do qual acusou os adversários políticos de fazerem "qualquer coisa" para alcançar o poder, incluindo "romper qualquer princípio".
"Neste momento, tenho a certeza de que minha vida está em risco. É claro que podemos esperar qualquer coisa, até o mais grave, de um grupo político que se comporta como um bando criminoso e assassino. Para a minha segurança e para garantir a possibilidade de uma eleição democrática, em 19 de junho, tomei a decisão de cancelar todas as minhas aparições públicas até as eleições", declarou, na gravação.
Um assessor confirmou ao Correio que a medida anunciada por Hernández começou a valer a partir das 20h de ontem (21h em Brasília). "Ele está em Miami até o dia das eleições", afirmou. No entanto, às 20h (hora de Brasília), o próprio Hernández avisou, nas redes sociais, que o ministro Daniel Palacios (do Interior) e o governo estão proporcionando "todas as seguranças para o regresso à Colômbia". "No sábado (amanhã), estarei novamente com vocês", disse, sem detalhar se retomaria as aparições.
Também no vídeo, o candidato disse que todos os colombianos têm a responsabilidade de não acabar com a democracia. "Tememos o pior sobre como isso pode acabar. Tenho informações sobre ações planejadas para serem executadas mais adiante. Na verdade, nunca tive medo. Agora, sim, tenho medo, e creio que com razões de sobra", acrescentou. A reportagem tentou contato com Hernández, por meio do celular pessoal do engenheiro, mas não obteve resposta. O assessor justificou que "a situação de segurança não abre espaços para entrevistas".
O ex-guerrilheiro e candidato esquerdista Gustavo Petro desafiou o rival. "Se meu oponente tem medo de sofrer um atentado, como temos feito sem parar nossas manifestações, eu o convido a debater em um local seguro. Eu o convido a debater na televisão. O povo merece isso", escreveu, também no Twitter.
"Se é por segurança, e compreendo isso, pois tenho vivido décadas sob ameaça, e mais ainda nesta campanha, eu o convido à segurança dos debates pela televisão. (...) Você terá a máxima segurança", insistiu. Em fevereiro, Petro desabafou à agência de notícias France-Presse: "O fantasma da morte nos acompanha". Depois da descoberta de um plano de magnicídio, o ex-prefeito de Bogotá aderiu à blindagem em palanques, durante os comícios, e intensificou a equipe responsável por sua escolta.
Para Andres Macías Tolosa, professor emérito da Universidad Externado de Colombia (em Bogotá), o gesto de Rodolfo Hernández deve ser analisado como parte da campanha política. "Toda ameaça a um candidato presidencial ou ao Legislativo deve ser vista com muita cautela. Medidas de segurança precisam são importantes e relevantes, e não se pode subestimá-las. É claro que temos que levar em conta que estamos no meio de uma campanha política e de um jogo político. No entanto, desde o anúncio do resultado do primeiro turno, Rodolfo avisou que não participaria de debates. Isso é parte de sua estratégia política", explicou ao Correio, por telefone.
"Se essa tática vai funcionar ou não, veremos no próximo dia 19. Rodolfo não está obrigado a participar de debates. Isso faz parte da vida política colombiana em época eleitoral."
Tolosa lembrou que, durante a campanha do primeiro turno, a Colômbia realizou um número excessivo de debates. "Temos que levar em consideração até que ponto os debates são um mecanismo idôneo ou não para o segundo turno", acrescentou.
Polarização
Na quarta-feira, o presidente da Colômbia, Iván Duque, expressou preocupação com "a demagogia, populismo, pós-verdade e a polarização" que podem assolar seu país, às vésperas do segundo turno. "Precisamos de democracias fortes, democracias sólidas, e democracias se tornam sólidas quando há pleno exercício das liberdades e não há ameaça à estabilidade", disse Duque.