As investigações do assassinato do promotor paraguaio Marcelo Pecci, ocorrido em maio, estão avançando rapidamente.
As autoridades explicaram nesta semana como o crime foi concebido e executado, e dizem que há cada vez mais indícios de que a autoria intelectual do crime é do Primeiro Comando da Capital (PCC), um dos maiores grupos criminosos do Brasil.
Pecci estava em lua de mel com a esposa na cidade turística de Barú, perto de Cartagena (Colômbia), quando um pistoleiro chegou de jet ski no resort onde ele estava hospedado e o matou a tiros em 10 de maio.
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O promotor liderava uma das maiores operações antimáfia da história do Paraguai, país que é chave na rede de tráfico de drogas da região. Por isso, desde o início as investigações apontavam para uma operação internacional.
Como o promotor foi executado?
Cinco pessoas foram presas. Quatro delas reconheceram participação no crime e confessaram detalhes sobre a execução do assassinato em audiência na segunda-feira (6/6).
O quinto preso, que negou as acusações, é identificado como o líder do grupo executor: Francisco Luis Correa, ex-integrante da quadrilha criminosa "Los Paisas", que tem um extenso histórico criminal.
Eles estão presos em uma prisão de alta segurança, acusados de homicídio qualificado e posse ilegal de armas.
Correa "foi quem estruturou aquela operação com pistoleiros que vieram de Medellín para Cartagena", segundo o procurador-geral da Colômbia, Francisco Barbosa.
Marisol Londoño e Cristian Camilo Monsalve, que são mãe e filho, ficaram encarregados de seguir Pecci até Barú, destino de férias com vários quilômetros de praia com hotéis na orla.
Eiverson Adrián Zavaleta foi encarregado de transportar os demais. Wender Scott Carrillo, um cidadão venezuelano, foi quem supostamente disparou a arma, segundo as autoridades.
Redes sociais
Além das confissões dos autores, a promotoria colombiana possui mais de uma centena de provas, desde comunicações interceptadas até imagens de câmeras de segurança, como a que mostra o promotor paraguaio e seus algozes momentos antes do crime.
Publicações nas redes sociais da esposa de Pecci, a jornalista Claudia Aguilera, teriam ajudado os pistoleiros, segundo detalhes da investigação.
"Os criminosos afirmaram que em muitas ocasiões tinham perdido o alvo, mas que graças às redes sociais conseguiram localizar o promotor", disse o promotor Barbosa.
Um sexto envolvido está foragido e as autoridades colombianas estão oferecendo até 500 milhões de pesos (cerca de R$ 650 mil reais) em troca de informações que facilitem sua captura.
Trata-se de Carlos Luis Salinas Mendoza, conhecido como "Mendoza", identificado como membro de uma organização criminosa a serviço de grupos internacionais e especificamente dedicado ao assassinato de aluguel.
Mendoza é alvo de um alerta da Interpol e acredita-se que ele tenha fugido para a Venezuela, embora também seja procurado no Equador, Peru e Panamá, segundo o diretor-geral da Polícia Nacional da Colômbia, general Jorge Luis Vargas Valencia.
Mentores
O crime foi financiado com mais de 2 bilhões de pesos colombianos (R$ 2,6 milhões) que foram distribuídos entre várias pessoas, disse o promotor colombiano. Mas quem estaria interessado em desembolsar tal quantia para acabar com a vida de Marcelo Pecci?
O promotor liderou inúmeras investigações contra a máfia, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro no Paraguai, incluindo uma contra o PCC.
Com sede em São Paulo e cerca de 30 mil membros, o PCC movimenta mais de R$ 390 milhões por ano em operações de tráfico de drogas, roubos, sequestros e assaltos a bancos, segundo cálculos da polícia brasileira.
O diretor da polícia colombiana apontou o PCC como principal suspeito do assassinato.
Ele argumenta que o PCC tinha planejado cometer o crime no Paraguai, mas que teriam sido convencidos a cometê-lo fora do país.
Vargas diz que os autores intelectuais não estão na Colômbia e indicou que as autoridades estão trabalhando no Paraguai para "alcançar os mentores em qualquer parte do mundo".
O Paraguai é um dos maiores produtores de maconha da América do Sul, abastecendo Brasil, Argentina e Chile, entre outros países, e é um centro regional de distribuição de cocaína boliviana destinada ao Brasil, Argentina e Europa, segundo dados de uma operação chamada "A Ultranza PY".
Essa operação resultou na demissão de dois ministros e na prisão de 24 pessoas por supostas ligações com organizações de narcotráfico.
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