"Não quero que aconteça de novo", implorou nesta quarta-feira (8) diante do Congresso dos Estados Unidos uma menina de 11 anos, que contou como se fez de morta para sobreviver ao ataque a tiros na escola do Texas há duas semanas.
Miah Cerrillo, uma aluna da quarta série da Escola Fundamental Robb em Uvalde, Texas, relatou sua terrível experiência quando 19 de seus colegas e dois professores foram baleados em 24 de maio em uma sala de aula.
Ela lembrou que assistiam a um filme e se protegeram atrás da mesa da professora e de suas mochilas quando o atirador entrou.
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"Ele disse 'boa noite' para minha professora e logo atirou na sua cabeça. Depois disparou contra alguns de meus colegas de classe e o quadro", disse Miah em um depoimento pré-gravado em vídeo.
"Quando fui até as mochilas, ele atirou na minha amiga que estava ao meu lado e pensei que ele ia voltar para a sala de aula, então peguei um pouco de sangue e espalhei por todo o meu corpo", continuou.
Miah contou que se manteve em completo silêncio, antes de pegar o celular de sua professora e discar o número de emergências 911.
Eu disse a eles que precisávamos de ajuda, e ver a policia em nossa sala", disse.
A polícia de Uvalde foi muito criticada após reconhecer que mais de uma dúzia de oficiais esperavam do lado de fora do prédio e não fizeram nada enquanto crianças morriam.
Questionada sobre o que ela queria que acontecesse em sua escola, respondeu: "Ter segurança". Quando perguntada se ela se sentia segura na escola, balançou a cabeça e disse: "Não quero que isso aconteça de novo".
"Pulverizados pelas balas"
Miah tem pesadelos, se recupera de fragmentos de bala nas costas e tenta lidar com o trauma, disse seu pai, Miguel Cerrillo, ao jornal USA Today.
O depoimento de Miah acontece enquanto o Congresso enfrenta uma pressão cada vez maior para combater a crescente violência armada em todo o país, especialmente em forma de tiroteios em massa - incidentes com pelo menos quatro mortos ou feridos, sem incluir o atacante.
Os massacres na escola de Miah e, 10 dias antes, em um supermercado em Buffalo, no estado de Nova York, comoveram a nação, revivendo os chamados urgentes para que os políticos comecem a agir.
O Comitê de Reforma e Supervisão da Câmara dos Representantes também ouviu os familiares de vítimas de tiroteios em massa recentes, entre eles Zeneta Everhart, mãe de um sobrevivente do massacre racista de Buffalo, que deixou 10 afro-americanos mortos.
"Meu filho Zaire tem um buraco no lado direito do pescoço, dois nas costas e um na perna esquerda, causados por uma bala explosiva de um rifle AR-15", disse Everhart.
"Enquanto trato suas feridas, posso sentir os pedaços dessa bala em sua coluna. Os estilhaços permanecerão dentro de seu corpo pelo resto de sua vida. Agora quero que imaginem essa mesma situação para um de seus filhos", afirmou.
Roy Guerrero, um pediatra que atendeu várias vítimas em Uvalde, relatou que viu "dois meninos cujos corpos foram pulverizados pelas balas, decapitados, cuja carne foi dilacerada".
"Eleitos para nos proteger"
Um grupo de senadores democratas e republicanos prepara uma legislação que, embora limitada, poderia se tornar a primeira tentativa de reformar a regulamentação de armas em décadas.
O pacote aumentaria o financiamento para cuidados de saúde mental e segurança escolar, ampliaria um pouco as verificações de antecedentes dos compradores de armas e incentivaria os estados a instituir as chamadas "leis de bandeira vermelha", que permitem que as autoridades confisquem armas de pessoas consideradas uma ameaça.
No entanto, não inclui uma proibição de armas de assalto ou verificações universais de antecedentes. Dessa forma, não cumpre as expectativas do presidente Joe Biden, dos democratas progressistas e dos ativistas contra a violência armada.
Mas, mesmo que alcancem um acordo, o projeto terá que enfrentar um Senado dividido igualmente entre democratas e republicanos e ter o apoio de pelo menos 10 republicanos, que relutam em fazer uma reforma regulatória significativa.
Por outro lado, os democratas que controlam a Câmara dos Representantes se dispõe a aprovar, nesta quarta-feira, um pacote de propostas muito mais amplo, que inclui aumentar a idade de compra de fuzis semiautomáticos de 18 para 21 anos.
Embora essas propostas não tenham os 60 votos que necessitam para avançar no Senado, a liderança democrata queria fazer algo após a série de recentes tiroteios em massa.
Garnell Whitfield Jr, filho da vítima do massacre de Buffalo Ruth Whitfield, de 86 anos, testemunhou na terça-feira no Comitê Judiciário do Senado sobre a violência da supremacia branca.
"Eles esperam que continuemos perdoando e esquecendo várias vezes? E o que estão fazendo? Foram eleitos para nos proteger e proteger nossa forma de vida", afirmou.
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