Guerra na Ucrânia

A angústia dos moradores de Lysychansk, no leste da Ucrânia

Os moradores não têm mais acesso à água potável, nem à energia elétrica ou rede de telefonia

Agência France-Presse
postado em 14/06/2022 08:30
 (crédito: ARIS MESSINIS / AFP)
(crédito: ARIS MESSINIS / AFP)

Lysychansk, Ucrânia- Com os olhos vermelhos, Maksim Katerin mostrou na segunda-feira (13/6) as sepulturas cavadas recentemente no jardim para sua mãe e seu padrasto, mortos nos bombardeios russos na cidade de Lysychansk, leste da Ucrânia.

Os moradores não têm mais acesso à água potável, nem à energia elétrica ou rede de telefonia. A cidade e a vizinha Severodonetsk são cruciais para o avanço russo em direção à capital da região do Donbass que permanece sob controle de Kiev, Kramatorsk.

Há vários dias, a artilharia ucraniana está posicionada nas áreas elevada da cidade para atacar as tropas inimigas em Severodonetsk, ou outro lado do rio Donets e já controlada em grande parte pelos russos.

No domingo à tarde, um obus destruiu o jardim da residência de de Maksim e matou na hora sua mãe, Natalia, e o marido dela, Mikola, ambos de 65 anos.

"Aqui estão seus túmulos. A bomba caiu exatamente aqui", afirma, apontando para uma área do jardim. "Não sei quem fez isto, mas se soubesse eu arrancaria os braços da pessoa", completa.

Sua vizinha, Yevgueniya Panicheva, não consegue conter as lágrimas.

Ela conta que a mãe Maksim "estava deitada lá com o estômago rasgado. Era possível ver os intestinos. Ela era uma mulher gentil e prestativa".

"Quem fez isto? Bombardeiam e bombardeiam e não sabemos o que fazer", lamenta.

Os dois não foram os únicos moradores de Lysychansk que morreram de maneira trágica no domingo: um menino de seis anos também faleceu, anunciou a polícia local, que divulgou uma foto da cratera provocada pelo bombardeio fatídico.

Uma cidade de quase 100.000 habitantes antes da guerra, Lysychansk está praticamente deserta atualmente.

Nas ruas, cabos de energia elétrica cortados estão pendurados nos postes, lojas foram completamente incendiadas e alguns imóveis ainda têm a fumaça de algum ataque.

- "Caos" -


Um policial descreve a situação em uma palavra: "caos". "Os russos bombardeiam o centro sem trégua", afirma. "Acontece o dia todo, não para nunca", afirma outro agente da força de segurança.

"A cada dia os bombardeios ficam mais intensos", confirma Oleskandr Pokhna, tenente-coronel das forças especiais da polícia da região de Lugansk, onde fica Lysychansk.

Durante a visita ao local, os correspondentes da AFP ouviram os barulhos incessantes dos bombardeios.

Na entrada da cidade, crateras podem ser observadas na estrada e uma bomba de fragmentação. Um edifício que abrigava um posto de controle está em chamas.

Os poucos habitantes que se arriscam a sair de casa, a pé ou de bicicleta, formam fila para obter uma água esverdeada no quartel dos bombeiros.

Para estas pessoas é impossível deixar a cidade por falta de dinheiro ou pela presença de parentes e animais domésticos que não imaginam abandonar, explicam.

"Temos gêmeos de cinco anos, então não podemos seguir para qualquer lugar", afirma Serguei, operário do setor metalúrgico. "Então esperamos sentados no porão".

Outros aguardam a retomada das negociações de paz entre Ucrânia e Rússia para o fim da guerra.

"Não podemos chegar a um acordo? Precisamos de um esforço para conseguir", disse Galina.

Para muitos moradores de Lysychansk, isolados do mundo e de todas as informações há várias semanas, são os ucranianos que bombardeiam a cidade.

"Não nos consideram seres humanos. Eles nos tratam como separatistas pró-Rússia", acrescenta a mulher furiosa que se recusa a revelar o sobrenome.

Um idoso concorda com a cabeça: "E, no entanto, eles eram nosso povo, os ucranianos.

Nesta região do leste da Ucrânia majoritariamente de língua russa, muitas pessoas se sentem mais próximas de Moscou do que de Kiev.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação