Violência

O ataque brutal a mulheres em restaurante que viralizou e gerou revolta na China

Agressão reacendeu debate sobre violência de gênero no país

BBC
BBC Geral
postado em 13/06/2022 08:31
 (crédito: Weibo/Reprodução)
(crédito: Weibo/Reprodução)


Nove pessoas foram presas na China depois que um vídeo de um ataque brutal contra mulheres por um grupo de homens viralizou no país.

A agressão, que aconteceu na cidade de Tangshan, gerou revolta nas redes sociais e reacendeu o debate sobre a violência de gênero na China.

O incidente começou quando um homem colocou a mão nas costas de uma mulher em um restaurante e ela o empurrou. Nas imagens da câmera de segurança, ele é visto batendo nela, depois outros homens a arrastam para fora e continuam espancando a mulher, que está no chão.

O grupo de homens também é visto atacando as mulheres que acompanhavam a primeira vítima.

Duas das mulheres foram internadas no hospital e estavam em "condição estável e não correm risco de morte", segundo as autoridades, enquanto outras duas sofreram ferimentos leves.

A polícia de Tangshan, no norte da província de Hebei, disse que prendeu nove pessoas por suspeita de agressão violenta e de "provocar problemas".

Rua deserta com bloqueio e um guarda ao lado
Getty Images
Casos de violência doméstica na China aumentaram durante a pandemia

Revolta

O ataque dominou a discussão na internet no sábado (11/6), ocupando os seis primeiros lugares dos tópicos mais discutidos do Weibo, a principal rede social da China.

A TV estatal mostrou reivindicações populares para que os suspeitos fossem severamente punidos.

"Isso poderia acontecer com qualquer um de nós", disse uma pessoa em um post sobre o caso curtido mais de 100 mil vezes.

"Como esse tipo de coisa ainda está acontecendo em 2022?" escreveu outra. "Por favor, que eles sejam condenados criminalmente e não escapem."

Um post amplamente compartilhado na rede social WeChat questionou a forma como algumas pessoas e a mídia estatal trataram o ataque como um ato de violência isolado.

"Isso aconteceu em uma sociedade em que a violência contra as mulheres é desenfreada", diz o texto. "Ignorar e suprimir a perspectiva de gênero é negar a violência sistêmica que as mulheres sofrem".


Análise: A luta contra a violência contra as mulheres na China

Por Kerry Allen, analista de mídia chinesa

Atos de violência contra as mulheres são assustadoramente comuns na China.

Dez anos atrás, enquanto eu morava no campo, testemunhei em várias ocasiões homens agredindo suas parceiras em plena luz do dia. Era comum ver grupos de pessoas simplesmente assistindo.

Historicamente, muitos viam tais incidentes como sendo um assunto privado entre um casal. Outros temem se envolver, seja para sua própria segurança pessoal ou porque têm medo de serem implicados em um crime.

A China só tornou a violência doméstica punível por lei em março de 2016. Antes de 2001, o abuso físico não era sequer motivo para divórcio.

Embora a violência sexual tenha se tornado mais passível de ação judicial, a atmosfera no Weibo, semelhante ao Twitter da China, é desanimadora. Muitos acham que o resultado desse caso será uma sentença leve e uma pequena multa.

Nos últimos anos, as mulheres tiveram pouco sucesso em responsabilizar o assédio ou agressão sexual. Poucos casos foram julgados a favor da vítima, a menos que tenham imagens para apoiá-lo, e os lockdowns por causa da pandemia de covid-19 na China nos últimos dois anos exacerbaram os ataques domésticos.


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