Gaúcho de Porto Alegre, André Hack Bahi, 44 anos, é o primeiro combatente brasileiro morto na guerra da Ucrânia. A informação foi confirmada ontem ao Correio pelo Itamaraty e pela irmã de André, a auxiliar de loja Tatiane Hack Bahi, 48, que vive em Eldorado do Sul (RS). "Recebemos a notícia através de um e-mail enviado por um colega dele, no último domingo. Até ontem (quarta-feira), tínhamos esperanças de que ele estivesse vivo. Hoje (ontem), a Embaixada do Brasil em Kiev nos enviou um e-mail com a confirmação", contou Tatiane, por meio do WhatsApp.
Ela admitiu que a família não apoiava a missão de André na Ucrânia. "Por nós, ele jamais teria ido", disse. Tatiane lembrou que André fez parte da Legião Estrangeira da França, um ramo do serviço militar aberto a cidadãos de outros países. Ferido em uma missão de risco, foi hospitalizado e alçado à patente de sargento. Em fevereiro, pediu baixa da França e se voluntariou para ajudar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Para a irmã, o brasileiro era exemplo de coragem e de determinação. "Ele não tinha nenhum laço com os ucranianos, mas escolheu o lado que estava sendo ameaçado", comentou. Ela explicou que o corpo de André está em um necrotério da cidade de Severodonetsk, na região do Donbass, no leste da Ucrânia, local do confronto com as forças russas. "Ainda não temos informações sobre o translado dos restos mortais", disse. Em 4 de junho, André falou com a companheira, que vive no Ceará, e relatou-lhe que estava saindo para uma missão. "Depois disso, houve o silêncio total, até termos a pior notícia de nossas vidas", desabafou Tatiane. "Sempre que podia, André falava conosco pelo WhatsApp e contava a situação difícil, cruel e dolorosa que vivenciava na Ucrânia."
Com carinho, Tatiane descreveu o irmão como "um ser humano maravilhoso, de coração puro e bondoso". "Ele adora ajudar o próximo", complementa, no tempo presente. "Era uma pessoa que tinha muitos amigos, que hoje choram por ele, assim como nossa família. Meu irmão fará falta e jamais será esquecido", concluiu. André Hack Bahi deixa cinco filhos.
Em nota enviada ao Correio, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, a confirmação do falecimento do brasileiro em decorrência do conflito. "O Itamaraty mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local", explicou.
Segundo a chancelaria, em caso de morte de cidadão brasileiro no exterior, os consultados do Brasil podem prestar orientações gerais aos familiares, apoiar seus contatos com autoridades locais e cuidar da expedição de documentos, como o atestado consular de óbito. "O traslado dos restos mortais de brasileiros falecidos no exterior é decisão da família. Não há previsão regulamentar e orçamentária para o pagamento do traslado com recursos públicos", explicou o Itamaraty. O Ministério das Relações Exteriores destacou que continua a desaconselhar enfaticamente o deslocamento de brasileiros para a Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país.
Armas pesadas
A Ucrânia voltou a pedir armamento ocidental de "longo alcance", o que permitiria ao país retomar rapidamente o controle de Severodonetsk, cidade onde André foi morto e onde está sendo travado todo o destino do Donbass. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitiu que suas tropas lutam uma das "mais difíceis" batalhas da guerra de Severodonetsk. "Defendemos nossas posições, infligimos perdas importantes ao inimigo. É uma batalha muito dura, muito difícil, provavelmente uma das mais difíceis desta guerra. Em muitos sentidos, o destino do Donbass está sendo decidido lá", declarou.
Também ontem, os britânicos Aiden Aslin e Shaun Pinner, e o marroquino Brahim Saadun, capturados por separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, foram condenados à morte pelo "Supremo Tribunal da República Popular de Donetsk". O trio foi acusado de participar dos combates na região como "mercenários" lutando a serviço de Kiev. O advogado de um deles anunciou que os condenados vão recorrer da sentença. O governo britânico se disse "profundamente preocupado" e alertou, por meio de um porta-voz do premiê Boris Johnson: "Repetimos que os prisioneiros de guerra não devem ser explorados com fins políticos". (RC)
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