Nicarágua

Parlamento da Nicarágua torna ilegais Academia de Línguas e 82 ONGs

O governo acusa organizações, incluindo defensoras de direitos humanos, de usarem as doações recebidas para tentar derrubar o governo

Correio Braziliense
postado em 01/06/2022 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

O Parlamento da Nicarágua cancelou a personalidade jurídica da Academia Nicaraguense de Línguas, após 94 anos de existência, acusada pelo governo de Daniel Ortega de não se registrar como "agente estrangeiro". Além disso, a Câmara, controlada por uma maioria governamental, proibiu, com o apoio de 75 dos 95 deputados, outras 82 ONGs, entre elas a Fundação Enrique Bolaños, do ex-presidente homônimo (2001-2007), acusadas de contornar o sistema jurídico.

Com sede em Manágua, a Academia Nicaraguense de Línguas foi criada em agosto de 1928. Entre seus destacados membros, estão o escritor Sergio Ramírez e a romancista e poeta Gioconda Belli, ambos radicados na Espanha. A proposta de cancelamento de 83 ONGs, que inclui a Academia, foi apresentada pelo presidente da Comissão de Justiça e Governança, o sandinista Filiberto Rodríguez, o qual apontou na nota de motivos que elas não se registraram como "agentes estrangeiros", o que é exigido por lei.

A Real Academia Espanhola (RAE) expressou sua "profunda preocupação com a notícia do possível fechamento" de sua contraparte nicaraguense, "que causará seu desaparecimento, após 94 anos de serviço ao maior valor cultural da nação". Por meio do Twitter, Gioconda Belli afirmou que, apesar dos 94 anos de existência, "agora alegam que não cumpriu os requisitos e que vão suspender o status de uma academia que é apolítica por natureza. Nem Somoza fez isso". A poetisa fez referência à ditadura dos Somoza, que governou com mão de ferro a Nicarágua entre 1937 e 1979, quando foi derrotada pela revolução sandinista liderada por Ortega.

No fim de 2020, o governo aprovou uma lei que obriga organizações da sociedade civil e pessoas jurídicas que recebem recursos do exterior a se registrarem como agentes estrangeiros e a prestar contas de como gastam o dinheiro ou como utilizam as doações recebidas. Com essas 82 ONGs, chega a mais de 200 o número de entidades fechadas pelo governo do presidente Daniel Ortega desde 2018, no contexto da crise desencadeada pelos protestos antigovernamentais, que deixaram um saldo de mais de 355 mortos e milhares de exilados.

O governo acusa essas organizações, incluindo defensoras de direitos humanos, de usarem as doações recebidas para tentar derrubar seu governo com o apoio dos Estados Unidos. O presidente de 76 anos está no poder desde 2007 e conquistou um quarto mandato consecutivo nas eleições de novembro, após a prisão de seus principais adversários.

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