A eleição presidencial colombiana terá segundo turno, que será disputado em 19 de junho, entre o esquerdista Gustavo Petro e o populista Rodolfo Hernández. Com 86,79% das urnas contabilizadas, Petro tem 40,3%, seguido por Hernández, com 28,2%.
A esquerda alcança seu melhor resultado eleitoral no país de 50 milhões de habitantes, historicamente governado por elites e assolado pelo narcotráfico e pela violência crescente, apesar do acordo de paz de 2016 com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). É a segunda eleição presidencial desde a assinatura do tratado pelo governo no país andino, e o tema não foi central na campanha, que se concentrou em questões como pobreza e corrupção.
A liderança de Petro, o candidato esquerdista de 62 anos, que fez parte do movimento de guerrilha M-19 e prometeu profundas mudanças econômicas e sociais, não surpreendeu: ele tenta o pleito pela terceira vez e vinha em primeiro lugar nas sondagens desde o início da campanha. A novidade foi Hernández, um magnata populista do setor imobiliário que apareceu por meses na sexta colocação nos levantamentos, mas, na reta final, passou por cima dos nomes mais cotados para chegar ao segundo turno. Aos 77 anos, ele somava 19% das intenções de votos, foi chamado de "Trump tropical" pela imprensa local e subiu inesperadamente nas pesquisas na última reta da campanha, depois de prometer limpar o país da corrupção e doar seu salário, entre outras medidas.
Com esses resultados, os colombianos castigaram de maneira inédita os partidos tradicionais e principalmente a direita, que pela primeira vez ficará de fora da disputa pela presidência.
O favorito para enfrentar Petro era o direitista Federico "Fico" Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín, apoiado pelo atual governo, de Iván Duque, e pelo Centro Democrático, partido comandado pelo caudilho Álvaro Uribe, popular ex-presidente da Colômbia. Ele ficou com 23,48%.
Hernández também desbancou o centrista Sergio Fajardo, que vinha em terceiro lugar nas pesquisas e tinha a preferência do eleitorado mais urbano, mas chegou às urnas com 4,22% dos votos.
A Colômbia nunca foi governada pela esquerda. O ex-guerrilheiro e senador Gustavo Petro, da coalizão Pacto Histórico, foi o único esquerdista entre os seis candidatos à sucessão do presidente Iván Duque, no palácio presidencial Casa de Nariño. Em 2018, o segundo turno foi entre Duque e Petro, com a união da direita para evitar a eleição do ex-prefeito da capital colombiana, Bogotá, o segundo cargo mais importante do país.
A vice de Gustavo Petro é a advogada e ativista ambiental Francia Márquez, que pode ser a primeira mulher negra a chegar ao cargo. Entre as propostas de Petro, estão reforma agrária, redução da taxa de desemprego por meio da criação de vagas no Estado e diminuição da dependência do país em relação ao petróleo, principal produto de exportação colombiano. Ele priorizará a produção do campo e das indústrias, com um governo social-democrata em que as expropriações estão fora dos planos.
Por outro lado, Hernández faz uma campanha baseada no amplo uso de redes sociais e ficou popular com discurso anticorrupção e caravanas pelo interior do país. Rico empresário do setor da construção, foi prefeito de Bucaramanga e tem origem pobre. Polêmico, já afirmou ser admirador do ditador nazista Adolf Hitler, para depois dizer que tinha se enganado e que, na verdade, queria dizer Albert Einstein.
Votação
O dia da eleição transcorreu sem grandes problemas. Havia um forte temor em relação às diversas ameaças que pairavam sobre Petro, que chegou a discursar cercado por guarda-costas que empunhavam escudos à prova de disparos de fuzil e metralhadora.
No início do dia, Gustavo Petro publicou uma carta nas redes sociais. "É tempo de confiança, convivência e vontade de mudar. Acredito na Colômbia, o sonho pacífico, bonito, justo, cheio de trabalho e conhecimento. Acredito que é hora de realizar sonhos. De vocês", dizia o texto. "Estamos representando a vontade de mudança (...) estou confiante de que essa vontade de mudança será a maioria", disse o candidato, mais tarde, após votar em um bairro popular da capital colombiana.
Já o oponente para a próxima fase, Rodolfo Hernández, em seu discurso ontem à noite em Bucaramanga, reforçou que fará "um país para todos, onde o governo trabalha cada dia para o bem-estar dos colombianos, especialmente para os mais necessitados".
Os colombianos escolherão seu próximo presidente entre a mudança radical proposta por Petro e a alternativa incerta de Hernández, que foca na luta frontal contra a corrupção. Quem vencer terá que lidar com um país ainda convalescendo dos estragos da pandemia.