Um adolescente de 18 anos abriu fogo nesta terça-feira (24) em uma escola de ensino fundamental do Texas, matando 18 crianças, um crime que voltou a arrastar os Estados Unidos para o pesadelo recorrente de ataques armados em ambientes escolares.
O ataque ocorreu na pequena localidade de Uvalde, situada a cerca de uma hora de distância da fronteira com o México.
Segundo o governador do Texas, Greg Abbott, o suposto agressor, identificado como Salvador Ramos, teria atirado contra sua avó antes de se dirigir à Escola Fundamental Robb por volta do meio-dia.
Em seguida, ele teria abandonado o seu veículo e entrado com uma pistola e, possivelmente, também um rifle.
"Atirou e matou, de forma hedionda e sem sentido", disse Abbott em coletiva de imprensa.
O governador acrescentou que o suspeito, a quem descreveu como um adolescente local e cidadão americano, também tinha "falecido", e acrescentou que tudo indica "que os agentes que responderam [o chamado] o mataram".
O senador estadual Roland Gutierrez, do Texas, disse à CNN que três adultos também foram mortos no ataque, citando o Departamento de Segurança Pública do Texas, embora não esteja claro se esse número inclui o atirador.
Pequenos grupos de crianças foram vistos ziguezagueando entre os carros e ônibus estacionados, alguns de mãos dadas, enquanto saíam da escola sob escolta policial, que tem alunos com entre sete e 10 anos.
O ataque foi o mais mortal desde que 14 adolescentes e três adultos foram assassinados em uma escola de ensino médio em Parkland, Flórida, em 2018, e o pior em uma escola primária desde o tiroteio em Sandy Hook, Connecticut, em 2012, que matou 20 crianças e seis funcionários.
"Já chega"
"Já chega", disse a vice-presidente, Kamala Harris, que também pediu "ação" para implementar o controle de armas.
"Nossos corações continuam sendo partidos", disse, ao se referir à letalidade dos ataques a tiros em escolas. "Devemos ter a coragem de agir", acrescentou.
A Casa Branca ordenou que as bandeiras sejam hasteadas a meio mastro em sinal de luto para as vítimas, cujas mortes provocaram uma onda de comoção.
"O presidente Biden já foi informado", tuitou sua porta-voz, Karine Jean-Pierre. "Suas orações estão com as famílias afetadas por este evento terrível, e ele falará esta noite, quando retornar à Casa Branca" de sua viagem para a Ásia.
Mais de 500 crianças, quase 90% delas de origem latina, estudavam na escola durante o ano letivo 2020-2021, segundo dados estaduais.
O centro educativo, por sua vez, pediu aos pais que não levassem seus filhos até que todas as crianças fossem contabilizadas.
"Em nenhum outro lugar"
O senador Ted Cruz, um republicano do Texas, tuitou que ele e sua esposa estavam orando pelas crianças e suas famílias "no horrível ataque a tiros em Uvalde".
Mas o senador Chris Murphy, um democrata de Connecticut, onde ocorreu o ataque em Sandy Hook, fez um apelo emocionado a seus colegas para que tomem medidas concretas para evitar mais violência.
"Isso não é inevitável, essas crianças não tiveram má sorte. Isso só acontece neste país e em nenhum outro lugar. Em nenhum outro lugar as crianças pequenas vão à escola pensando que poderiam receber um disparo", disse Murphy, ao acrescentar que é preciso "encontrar uma maneira de aprovar leis que tornem isso menos provável".
Este mês houve outros ataques a tiros nos Estados Unidos.
Em 14 de maio, um jovem de 18 anos matou a tiros dez pessoas em uma loja de comestíveis em Buffalo, Nova York. Usando um colete à prova de balas e um fuzil AR-15, o autoproclamado supremacista branco teria transmitido ao vivo seu ataque.
Segundo informes, ele planejou seu ataque durante meses, realizando-o no estabelecimento devido à grande concentração de afro-americanos que o rodeiam.
No dia seguinte, um homem bloqueou a porta de uma igreja em Laguna Woods, Califórnia, e abriu fogo contra sua congregação taiwanesa-americana, matando uma pessoa e ferindo cinco.
O atirador, que trabalhava como segurança em Las Vegas, atacou as pessoas por "ódio com motivação política... (E) estava incomodado com as tensões políticas entre China e Taiwan", segundo o xerife do condado de Orange, Don Barnes.
Apesar dos ataques a tiros em massa recorrentes e de uma onda nacional de violência armada, múltiplas iniciativas para reformar as regulações sobre armas fracassaram no Congresso nos Estados Unidos, deixando aos legislativos estaduais e locais promulgarem suas próprias restrições.
A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) tem sido fundamental na luta contra a aprovação de leis mais estritas sobre armas. Abbott e Cruz figuram como oradores em um conferência organizada por esse poderoso grupo lobista em Houston, Texas, no fim desta semana.
Os Estados Unidos registraram 19.350 homicídios com armas de fogo 2020, quase 35% a mais do que em 2019, segundo os dados oficiais.