Sem notícias dos filhos, pais desesperados correram até a funerária de Uvalde. Com cerca de 16 mil habitantes, a cidade situada no oeste do Texas tornou-se cenário de filme de terror e entrou para as estatísticas de uma tragédia que aflige os Estados Unidos há décadas. Pouco depois das 11h40 (13h40 em Brasília), Salvador Ramos, 18 anos, invadiu a Escola Fundamental Robb, armado com uma pistola e, provavelmente, com um rifle. Pelo menos 18 estudantes, com idade entre 7 e 10 anos, e um adulto morreram no ataque. "Ele atirou e assassinou de forma horrível e incompreensível", afirmou o governador do Texas, Greg Abbott.
Ramos foi abatido pelas forças de segurança. Antes do massacre, ele também havia disparado contra a própria avó — o estado de saúde dela não foi divulgado. "Quando pais deixam seus filhos na escola, eles têm toda a expectativa de que serão capazes de buscá-las quando o dia letivo terminar. Temos famílias enlutadas agora", lamentou Abbott. Uma mulher de 66 anos e uma menina de 10 foram hospitalizadas em estado crítico. De acordo com o jornal The New York Times, pais em choque foram instruídos pelas autoridades a manterem distância da escola, cuja maioria dos alunos tem origem hispânica.
Morador de Uvalde, Derek Gonzalez relatou à emissora CBS News que estava próximo à escola quando viu alunos correndo para fora do prédio e gritando que havia um atirador. "Escutei entre cinco e seis tiros. Falei com o meu primo, cuja filha estuda na Escola Fundamental Robb. Ela disse que apenas ouviu gritos e que, depois disso, havia o silêncio", contou. Isaias Melendez, pai de uma estudante, filmou alunos fugiando da escola, enquanto policiais fortemente armados seguiam na direção oposta.
Até o fechamento desta edição, a motivação do ataque era desconhecida. Mais cedo, o Hospital Uvalde Memorial tinha informado no Facebook que havia atendido "13 crianças", e acrescentou que duas pessoas "tinham morrido" ao darem entrada no local, sem especificar suas idades. Outro hospital, o University Health, na cidade vizinha de San Antonio, informou ter recebido "dois pacientes", um adulto e uma criança". Em viagem à Àsia, o presidente dos Estados Unidos recebeu informações em tempo real sobre o ataque. "Suas orações estão com as famílias afetadas por este terrível evento. Ele falará esta noite", informou a porta-voz da Presidência dos EUA, Karine Jean-Pierre. A Casa Branca baixou a bandeira do país a meio-mastro em respeito às vítimas.
Ted Cruz, senador pelo Texas, tuitou que ele e sua mulher estavam rezando pelas crianças e pelas famílias "no horrível ataque a tiros em Uvalde". "Obrigado às forças heroicas da ordem pública e dos socorristas por agir com tanta rapidez", ressaltou.
O massacre em Uvalde ocorreu 10 dias depois de um supremacista branco entrar em um supermercado de Buffalo, no estado de Nova York, matar 10 pessoas e ferir três. Das 13 vítimas, 11 eram negras. O assassino usou uma câmera acoplada ao capacete para transmitir a barbárie, ao vivo, pela internet, e deixou um manifesto no qual denunciava uma conspiração para eliminar brancos na sociedade.
Apesar dos ataques a tiros em massa recorrentes e de uma onda nacional de violência armada, múltiplas iniciativas para reformar as regulações sobre armas fracassaram no Congresso nos Estados Unidos, deixando aos legislativos estaduais e locais promulgarem as próprias restrições. Somente em 2020, os EUA registraram 19.350 homicídios com armas de fogo, quase 35% a mais do que no ano anterior, segundo os dados mais recentes dos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC), a principal agência de saúde pública americana.