O painel Decifrando o futuro da América Latina, do Fórum Econômico Global, de Davos, na Suíça, nesta segunda-feira (23/5), debateu a democracia no continente e os avanços tecnológicos. Thomas Friedman, jornalista do New York Times, segurando um smartphone logo no início de sua fala, disse que os avanços tecnológicos contribuíram para a polarização. “Isso dificulta o trabalho”, afirmou. O debate entre os painelistas circundou a democracia e os desafios impostos pela polarização no continente.
Moises Naim, escritor e colunista venezuelano, respondeu à pergunta do jornalista Enrique Acevedo sobre como a América Latina vem respondendo ao populismo diante desses novos desafios. “O que vem acontecendo com o mundo nestas últimas décadas? Uma palavra deve ser mencionada: ‘democracia’. Em 2020, 70% da humanidade vive em regimes autocráticos”, afirmou.
Ainda segundo Naim, nessa década, os líderes buscam mais concentração de poder, mas que também há casos singulares como o chileno, de mudanças na constituição por pressão popular. “Há o caso atual daqueles que usam o populismo e a polarização”, afirmou. Ainda de acordo com ele, o assunto “democracia” se tornou global combinado com a inflação e a crise econômica global, principalmente na América Latina — o populismo vem combinado com a questão econômica. “A democracia na América Latina é uma promessa de regimes autoritários", destacou.
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Arancha Gonzalez Laya, ex-ministra de Assuntos Exteriores, União Europeia e Cooperação da Espanha, afirmou que a guerra comercial entre Estados Unidos e a China também é um fator que contribuiu para o acirramento democrático na América Latina. “Prospectou a fragmentação”, disse. A guerra na Rússia, segundo Laya, mostrou o problema do unilateralismo. “Não podemos esquecer que a América Latina depende dos mercados interncionais”, afirmou.
Ainda de acordo com a ex-ministra, se a América Latina não se preparar de forma cooperativa para as mudanças climáticas, os países ficarão “sozinhos na economia global”, destacou. Andrés Velasco, ex-ministro das Finanças do Chile, ainda destacou que o populismo está presente no continente latino-americano e citou os ex-presidentes brasileiro e argentino Getulio Vargas e Juan Domingo Perón, respectivamente.
“Agora nós temos uma pandemia. No Peru, foi eleito um presidente populista também [Pedro Castillo]. O que temos que ver sobre a democracia é a performance e quais os problemas políticos do populismo, com demagogos”, disse Velasco.
Naim observou que quando uma eleição acontece, nos EUA ou mesmo em países latino-americanos, as mudanças são de regime, mesmo entre republicanos e democratas. “São mudanças profundas.”