A guerra na Ucrânia pode ser encerrada somente por meios "diplomáticos" - declarou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, neste sábado (21), embora as negociações entre Moscou e Kiev estejam em ponto morto.
"O fim [do conflito] será diplomático", disse ele em entrevista a um canal de televisão ucraniano.
A guerra "será sangrenta, haverá combates, mas terminará, com certeza, por meio da diplomacia", acrescentou.
"As discussões entre Ucrânia e Rússia com certeza vão acontecer. Não sei sob qual formato: com intermediários, sem eles, em um círculo ampliado, ou em nível presidencial", acrescentou.
"Há coisas que podemos conseguir somente na mesa de negociações. Queremos que tudo volte [a ser como era antes]", algo que "a Rússia não quer", acrescentou, sem dar mais detalhes.
O resultado dessas conversas, cujo tema pode variar "segundo o momento da reunião", deve ser "justo" para a Ucrânia, ressaltou o presidente.
Zelensky lembrou que uma condição indispensável para a continuidade das negociações é que o Exército russo não mate os militares ucranianos entrincheirados no vasto complexo metalúrgico de Azovstal, em Mariupol, no sudeste da Ucrânia.
O presidente observou que as tropas russas "deram a possibilidade" de os combatentes ucranianos saírem vivos de Azovstal.
"O mais importante para mim é salvar o maior número possível de pessoas e soldados", frisou.
Enquanto isso, de Moscou, o Ministério da Defesa afirmou ter destruído um grande carregamento de armas fornecidas por países ocidentais às tropas ucranianas na região leste do Donbass.
"Mísseis Kalibr de alta precisão e longo alcance, lançados do mar, destruíram um grande lote de armas e equipamentos militares perto da estação ferroviária de Malin, na região de Zhytomyr, enviados pelos Estados Unidos e por países europeus", disse o ministério.
Além do apoio militar, a Ucrânia conta com forte apoio financeiro dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).
Neste sábado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sancionou um projeto de lei de US$ 40 bilhões destinado a garantir o fornecimento de armas e apoio econômico à Ucrânia. E o G7, grupo dos sete países mais industrializados do mundo, prometeu US$ 19,8 bilhões.
- Gás cortado para a Finlândia -
Depois que os países ocidentais impuseram uma série de sanções à Rússia, o Kremlin advertiu que seus suprimentos de gás seriam cortados, a menos que os pagamentos fossem feitos em rublos.
Após cumprir sua ameaça na Polônia e na Bulgária, Moscou fez o mesmo com a Finlândia, na manhã deste sábado, informou a estatal do país nórdico Gasum.
"As entregas de gás para a Finlândia sob o contrato de fornecimento da Gasum foram cortadas", disse a empresa finlandesa em um comunicado, acrescentando que, a partir de agora, o abastecimento será feito pelo gasoduto Balticconnector, que conecta Estônia e Finlândia.
Este anúncio foi feito dois dias depois de Finlândia e Suécia, dois países com histórico de não alinhamento militar, solicitaram sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em meio a temores regionais provocados pela invasão russa da Ucrânia.
A Rússia mantém seu cerco no leste da Ucrânia, após declarar, na sexta-feira, a "liberação total" da cidade de Mariupol (sudeste) com a rendição dos últimos defensores entrincheirados há semanas na siderúrgica Azovstal.
Depois de resistirem em condições precárias no labirinto de túneis desta fábrica, os cerca de quinhentos combatentes ucranianos que lá permaneceram se renderam na sexta-feira, anunciou o Ministério russo da Defesa.
Desde segunda-feira, 2.439 combatentes se entregaram às tropas de Moscou, pondo fim ao último bolsão de resistência desta cidade portuária do Mar de Azov, devastada por meses de bombardeios.
O ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, informou ao presidente Vladimir Putin "o fim da operação e a liberação total do complexo [Azovstal] e da cidade de Mariupol", disse um porta-voz.
As autoridades ucranianas, que ordenaram a seus soldados que depusessem as armas para "salvar" suas vidas, estão confiantes em uma troca de prisioneiros com soldados russos, embora as autoridades rebeldes da região ameacem julgá-los.
- Zelensky promete repatriar prisioneiros -
"Serão trazidos de volta para casa", prometeu Zelensky em entrevista à televisão ucraniana, na qual afirmou que 700.000 combatentes ucranianos lutam contra as tropas russas.
O porta-voz do Departamento americano da Defesa, John Kirby, pediu que "todos os prisioneiros de guerra sejam tratados de acordo com a Convenção de Genebra e com o direito da guerra".
A captura de Mariupol era um objetivo-chave na estratégia de Moscou para conquistar o leste e o sul da Ucrânia.
Na região leste do Donbass, uma área de mineração parcialmente controlada, desde 2014, por separatistas apoiados pelo Kremlin, várias cidades passaram semanas sob bombardeios russos.
Segundo o ministro russo da Defesa, suas tropas estão "perto de completar" a liberação de Lugansk, uma das duas regiões, juntamente com Donetsk, que compõem esta bacia mineira.
Três pessoas morreram na sexta-feira, e cinco ficaram feridas neste sábado, na região de Donetsk, anunciou seu governador Pavlo Kyrylenko no Telegram.
Mais a oeste, na região de Kharkiv, onde a Ucrânia diz estar recuperando terreno, as autoridades relataram oito feridos, incluindo um garoto, vítimas de mísseis disparados contra um centro cultural na cidade de Lozova.
O governador da região nordeste de Kharkiv, Oleg Sinegubov, afirmou que várias cidades foram alvo de ataques de artilharia nas últimas 24 horas, deixando um morto e 20 feridos.