Guerra no leste europeu

G7 alerta Rússia contra anexação de territórios: 'Nunca reconheceremos'

Por meio de um comunicado, eles prometeram manter o compromisso de "apoiar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a Crimeia" — península anexada pela Rússia em 2014

Um novo mecanismo de pressão começou a ser ensaiado, ontem, pelo G7 — os sete países mais industrializados do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido). Ao fim de uma reunião na cidade de Wangels, no norte da Alemanha, os chanceleres do grupo emitiram um alerta ao governo de Vladimir Putin: "Nunca reconheceremos as fronteiras que a Rússia tenta mudar com sua intervenção militar".

Por meio de um comunicado, eles prometeram manter o compromisso de "apoiar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a Crimeia" — península anexada pela Rússia em 2014. A decisão do G7 foi anunciada quatro dias depois de Avril Haines, diretora da Inteligência Nacional dos Estados Unidos, afirmar no Congresso dos EUA que a Rússia planeja capturar todo o sul da Ucrânia e criar uma ponte terrestre ligando-o à Transnístria, região separatista situada no Moldávia.

Annalena Baerbovk, ministra das Relações Exteriores da Alemanha, entende que a Ucrânia deve "decidir por conta própria" sobre o assunto "porque é seu território". "Apoiaremos as medidas (...) que a Ucrânia adotará para garantir a liberdade e a paz no país", afirmou ela. A Alemanha assume a Presidência do G7 neste ano. O grupo anunciou outras resoluções em relação ao risco de uso de armas não convencionais pela Rússia, à influência de Belarus no conflito russo-ucraniano e à tentativa da China de barrar ou minimizar o impacto das sanções impostas pela comunidade internacional contra Moscou.

Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexiy Haran disse ao Correio não se surpreender com a postura do G7. "A comunidade internacional não reconheceu a Crimeira, nem as repúblicas marionetes de 2014 (Donetsk e Luhansk, no leste). Também não reconhecerá novas intervenções russas", advertiu. Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev, também considerou que a declaração do G7 está alinhada ao que se espera da comunidade internacional em relação à soberania da Ucrânia.

"A resposta da Rússia é mais interessante e não menos ultrajante. Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, declarou que Moscou 'não se importa com o não reconhecimento de novas fronteiras por parte do G7' e que 'a vontade verdadeira das pessoas que vivem ali é importante'. É bem cínico apelar ao 'desejo popular' quando as perseguições contra ativistas, jornalistas e políticos ucranianos continuam nos territórios temporariamente ocupados pela Rússia", afirmou à reportagem. 

Os sinais de expansão de fronteiras são cada vez mais evidentes. Na região de Kherson, ao sul da Ucrânia, as autoridades pró-Rússia anunciaram que pedirão ao Kremlin a anexação à Rússia. "Haverá uma solicitação (ao presidente russo) para fazer com que a região de Kherson seja sujeito pleno da Federação da Rússia", declarou Kirill Stremusov, chefe-adjunto da administração cívico-militar deste território situado ao norte da Crimeia. 

Em Mariupol (sudeste), as autoridades ucranianas  acusaram Moscou de preparar um referendo para decidir se a importante cidade portuária será incorporada à Rússia. Na sexta-feira, o líder da Ossétia do Sul, Anatoly Bibilov, também convocou a realização de uma consulta popular, em 17 de julho, para que esta região separatista da Geórgia se pronuncie sobre sua integração à Federação da Rússia.

Kharkiv 

O Estado-Maior conjunto da Ucrânia assegurou que as tropas da Rússia estão se retirando do entorno de Kharkiv (nordeste), a segunda maior cidade do país — antes da guerra, eram 1,4 milhão de habitantes. Segundo os militares ucranianos, os russos se concentram, agora, em guardar as rotas de suprimento, enquanto disparam morteiros e artilharias contra a província de Donetsk, na região do Donbass, controlada parcialmente por separatistas pró-Kremlin. 

Morador de Kharkiv, Glib Mazepa, 35 anos, relatou ao Correio que o Exército ucraniano expulsou os inimigos para perto da fronteira com a Rússia. "Os russos entraram na cidade uma vez, em abril. Nos últimos dias, estavam posicionados ao norte e ao leste de Kharkiv, disparando morteiros a curta distância. O contra-ataque ucraniano começou em 20 de abril e foi bem-sucedido, ao liberar os vilarejos da região", contou. "Uma das vilas, a 20km de Kharkiv, esteve sob ocupação por 20 dias. Quando os soldados russos saíram, reuniram os os professores e os executaram. Em outro vilarejo, estupraram a diretora da escola, durante uma semana, depois a assassinaram."

Mazepa disse que o último ataque intenso de disparos de artilharia contra Kharkiv ocorreu em 4 de maio. "Aconteceu a 1,5km de minha casa. Desde então, temos sofrido bombardeios com foguetes. Um deles caiu perto do aeroporto. Os moradores estão voltando para a cidade. Há filas nas estradas, desde quarta-feira. O principal problema, agora, é a escassez de petróleo. Os russos destruíram os oleodutos", disse o morador. 

Se em Kharkiv a situação é um pouco mais tranquila, em Luhansk, o Ministério da Defesa da Ucrânia registrou 30 bombardeios em 24 horas e reportou combates frequentes em toda a linha de frente de Donetsk.

Saiba Mais