O comunicado foi assinado pelo presidente do país, Sauli Niinistö, e pela primeira-ministra, Sanna Marin. "Ser membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) reforçaria a segurança da Finlândia. Como membro da Otan, a Finlândia também reforçaria a Aliança em seu conjunto. A Finlândia deve ser candidata à adesão sem demora", afirmaram. A julgar pela reação do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e de nações como Estados Unidos, França e Alemanha, a Finlândia deverá se tornar, em breve, o 30º integrante da organização, apesar de advertências da Rússia, pouco menos de três meses depois de invadir a Ucrânia.
Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov disse que o governo de Vladimir Putin "definitivamente" veria a adesão finlandesa como ameaça. "A expansão da Otan e a aproximação da Aliança de nossas fronteiras não tornam o mundo e nosso continente mais estáveis e seguros", alertou. A chancelaria russa avisou que "a adesão à Otan prejudicará seriamente as relações bilaterais russo-finlandesas e a manutenção da estabilidade e da segurança no norte da Europa". "A Rússia será forçada a tomar medidas retaliatórias, tanto de ordem militar-técnica, quanto de outra natureza", afirmou. A expectativa é de que a Suécia siga a Finlândia e, no domingo, expresse o desejo de oficializar a candidatura à Otan.
Stoltenberg saudou a "decisão soberana" da Finlândia. "Caso a Finlândia decida candidatar-se, (...) o processo de adesão será suave e rápido", prometeu. Países da Aliança celebraram o anúncio de Helsinque. "Os EUA apoiarão a candidatura à Otan, por parte da Finlândia e da Suécia, caso escolham fazê-lo", comentou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca. "Congratulo-me com a decisão da Finlândia. (...) Em telefonema ao presidente Niinistö, assegurei total apoio do governo federal", disse o chanceler alemão, Olaf Scholz. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que "apoia totalmente" a "soberania" da Finlândia.
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Segurança
Especialista do Programa de Segurança Global do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, Charly Salonius-Pasternak explicou ao Correio que ser membro da Otan é a melhor forma de maximizar a própria segurança. "Com a adesão, a Finlândia continuará a modernizar e a fortalecer sua defesa. Também poderá se beneficiar da dissuasão nuclear da Otan", avaliou. "Se a Rússia atacar, a Finlândia não será compelida a defender-se sozinha, como fez durante a Guerra do Inverno, entre 1939 e 1941, quando a União Soviética atacou o nosso país." Ele lembra que há anos a Rússia tem frisado que não deseja ver a Finlândia como membro da Otan. "É certo que Moscou reagirá de alguma forma. Podemos esperar a movimentação de tropas russas."
Para Iro Särkkä, especialista em Otan pela Universidade de Helsinque, a adesão daria à Finlândia as garantias de segurança do Artigo 5 e aumentaria a dissuasão contra perigos externos. "Na atual conjuntura, uma ameaça em potencial da Rússia não pode ser ignorada. Isso também maximizaria nossa segurança nacional. Mas, a Finlândia seria responsável por sua própria defesa nacional, mesmo como membro da Otan", pontuou.
De acordo com Henri Vanhanen, conselheiro de política externa do Partido de Coalizão Nacional, principal grupo de oposição da Finlândia, ao atacar a Ucrânia e exigir que a Otan não se expanda, a Rússia mudou o equilíbrio de segurança da Europa. "A Finlândia não pode mais confiar na Rússia para respeitar seu não alinhamento militar. É mais seguro estar na Otan", disse à reportagem. "Na Aliança, a Finlândia terá a proteção do artigo 5 e o guarda-chuva nuclear, e a Otan receberá um membro que contribui com 280 mil soldados. A posição geoestratégica da Finlândia, entre o Ártico e o Mar Báltico, vai melhorar a defesa do norte da Europa."
Eu acho...
"Acredito em uma adesão rápida. A Finlândia e a Suécia, duas democracias estabelecidas e membros da União Europeia, realizam diferentes tarefas da Otan ao longo das fronteiras. Os aparatos militares de Finlândia e Suécia são interoperáveis e compatíveis com os da Otan. Muitas coisas que levariam tempo já foram feitas. É tudo uma questão de negociações formais para a adesão. O processo demorará dias ou semanas. A ratificação, como membros observadores, deve levar alguns meses. Cada país tem um Parlamento que atua de forma diferente."
Charly Salonius-Pasternak, especialista do Programa de Segurança Global do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais (FIIA)
"O processo de adesão da Finlândia seria realmente célere. O meu país tem sido um parceiro muito ativo da Otan desde que aderiu ao Programa de Parceria pela Paz, em 1994. Nos anos mais recentes, essa parceria aprofundou-se. Além disso, a Finlândia seria politicamente um membro ideal para a Aliança, na condição de nação pacífica, com uma democracia forte, um Estado de direito e o respeito aos direitos humanos."