A Organização Mundial da Saúde (OMS) saiu em defesa do acesso ao aborto, em resposta ao vazamento de um rascunho de opinião da Suprema Corte dos Estados Unidos, o qual pede a revogação da decisão "Roe vs. Wade" de 1973 — medida que protege o direito constitucional das mulheres norte-americanas de interromperem a gravidez. "Restringir o acesso ao aborto não reduz o número de procedimentos, apenas leva as mulheres e meninas a realizar procedimentos inseguros", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em seu perfil no Twitter, sem mencionar diretamente os Estados Unidos. "O acesso ao aborto seguro salva vidas", enfatizou o chefe da OMS.
Segundo o dirigente da agência das Nações Unidas, "as mulheres devem sempre ter o direito de escolha quando se trata de seus corpos e sua saúde". Na terça-feira, o juiz John Roberts, chefe da Suprema Corte, confirmou a autenticidade do rascunho de opinião, assinado pelo colega Samuel Alito, mas frisou que a decisão pontuada no documento não é a palavra final da máxima instância do Judiciário. No texto vazado pelo site Politico, Alito escreve que a medida "Roe vs. Wade é infundada desde o começo" e adverte que ela "não está protegida por nenhuma disposição da Constituição dos EUA". Roberts ordenou uma investigação para determinar as circunstâncias do vazamento.
A pouco mais de seis meses das eleições legislativas de novembro, o tema do direito ao aborto deve dominar a campanha e tornar-se central para o Partido Democrata. O presidente norte-americano, Joe Biden, exortou os cidadãos a defenderem o direito nas urnas. De acordo com o site The Hill, em 24 horas, os democratas coletaram US$ 12 milhões para tentar manter o acesso à interrupção da gestação.
Mary Ziegler — professora de direito constitucional da Universidade de Harvard e autora de Abortion and the law in America: Roe v. Wade to the present (Aborto e a lei na América: de Roe v. Wade até o presidente) — afirmou que a revogação do direito ao aborto enviaria ondas de choque por toda a sociedade norte-americana. "Quase metade dos estados proibiria a interrupção da gravidez, e isso poderia atrapalhar as eleições", comentou. Ziegler lembrou que embora a maioria dos americanos seja a favor das restrições ao aborto, eles não apoiam a proibição do procedimento. "Na teoria, uma reação democrata contra essa eventual decisão da Suprema Corte poderia ajudar Biden. A questão é saber se os eleitores que se opõem a esse tipo de decisão ou se mobilizariam nesse sentido."