A Finlândia confirmou neste domingo (15/5) sua candidatura à Otan, um anúncio que representa um reequilíbrio de poderes na Europa após décadas de não alinhamento militar e quase três meses de conflito na Ucrânia, onde o Ocidente afirma que as tropas russas sofrem perdas consideráveis.
Em Helsinque, o presidente finlandês, Sauli Niinistö, classificou o anúncio do pedido de adesão como "histórico". "Começa uma nova era", declarou.
A decisão de solicitar a entrada na Otan ainda precisa ser ratificada pelo Parlamento e muitos esperam que a Suécia adote o mesmo caminho, o que provocou a revolta da Rússia, que ameaça represálias contra os dois países.
A Rússia já interrompeu o fornecimento de energia elétrica à Finlândia, país com o qual compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros. A rede funciona atualmente graças às importações da Suécia, de acordo com a operadora finlandesa Fingrid.
A grande maioria dos integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte apoia a entrada das duas nações nórdicas, com exceção da Turquia, que ameaça bloquear a iniciativa.
A decisão da Finlândia é uma consequência direta da invasão russa contra a Ucrânia, onde as tropas russas sofreram grandes perdas militares, de acordo com os serviços de inteligência dos países ocidentais.
De acordo com fontes da inteligência, o conflito será travado no leste, onde as tropas de Moscou enfrentam forte resistência.
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"Perdeu impulso"
O ministério da Defesa da Rússia anunciou ataques com mísseis de "alta precisão" contra quatro depósitos de munição na área de Donetsk, leste da Ucrânia.
Os ataques aéreos também destruíram dois sistemas de lançamento de mísseis e um radar, enquanto 15 drones ucranianos foram eliminados nos arredores de Donetsk e Lugansk, acrescentou.
Mas de acordo com os países ocidentais, o avanço russo perde força. Comandantes da área de Defesa do Reino Unido afirmam que a ofensiva da Rússia na região do Donbass "perdeu impulso".
"As desmoralizadas tropas russas não conseguiram avanços substanciais e o plano de batalha de Moscou está significativamente atrasado", afirmou o serviço de inteligência de Defesa do Reino Unido.
"Nas atuais condições é pouco provável que a Rússia acelere drasticamente o ritmo de avanço nos próximos 30 dias", completou a inteligência britânica, que calcula que Moscou "provavelmente" perdeu um terço de suas tropas.
Ucrânia e Rússia anunciam com frequência dados de mortes no lado inimigo, mas não é possível determinar o número real de vítimas do conflito.
Kiev afirma que suas tropas mataram quase 20.000 militares russos. Moscou anunciou em 25 de março que suas forças mataram pelo menos 14.000 militares ucranianos.
Os dois números provavelmente estão inflados e não é possível verificar as informações com fontes independentes.
No fim de março, o Kremlin afirmou que 1.351 soldados russos morreram na ofensiva. Uma fonte militar da Otan calcula que entre 7.000 e 15.000 soldados russos podem ter falecido nos combates.
Leste da Ucrânia
A Rússia, que iniciou a invasão em 24 de fevereiro, concentrou nas últimas semanas a ofensiva no leste, depois de um recuo em Kiev na região norte da Ucrânia.
Os líderes ocidentais preveem uma guerra prolongada de desgaste, que prosseguirá até o próximo ano.
O governador da região de Lugansk (leste), Sergei Gaidai, afirmou que os soldados russos tentaram atravessar o rio Donets para cercar a cidade de Severodonetsk, mas as tropas ucranianas impediram o avanço.
Imagens aéreas mostram dezenas de veículos blindados destruídos na margem do rio e pontes que também foram destruídas.
Em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, as tropas russas recuam após uma contraofensiva ucraniana, afirmaram as autoridades locais.
Desde o início da ofensiva no fim de fevereiro, as vitórias russas se limitam à cidade meridional de Kherson e à conquista quase total de Mariupol (sudeste), no Mar de Azov.
Quase 600 combatentes resistem nos túneis da siderúrgica Azovstal, em Mariupol, e suas famílias fizeram um apelo de ajuda ao presidente chinês Xi Jinping para conseguir uma operação de retirada.
No início do mês, a ONU e a Cruz Vermelha organizaram uma operação de retirada de civis da fábrica, onde estavam refugiados para escapar dos bombardeios russos.
Petro Andryushchenko, assessor do prefeito da cidade, afirmou no Telegram que um "grande comboio" de entre 500 a 1.000 carros chegou à cidade de Zaporizhzhia.
Vitória no Eurovision
Em Kiev, dominada por notícias ruins da guerra, a vitória da Ucrânia no festival Eurovision foi muito celebrada.
"É um pequeno raio de felicidade. É muito importante para nós", disse Iryna Vorobey, empresária de 35 anos.
"Estou muito feliz. A vitória é muito boa para nosso ânimo", declarou à AFP Andriy Nemkovych, administrador de 28 anos.
O grupo Kalush Orchestra conquistou o público com "Stefania", um rap que combina folclore com ritmos modernos e uma coreografia de breakdance.
"Nossa coragem impressiona o mundo, nossa música conquista a Europa!", escreveu no Facebook o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Mas outros não comemoraram. "Não é a coisa mais importante do momento", disse Vadym Zaplatnikov, de 61 anos. Para ele, "recuperar a Crimeia seria uma notícia melhor".
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