A partir deste sábado (14/5), a Finlândia deixará de receber o suprimento de energia elétrica importado da Rússia. "Somos forçados a suspender a importação de eletricidade a partir de 14 de maio", informou a operadora RAO Nordic, filial do grupo estatal russo InterRAO, com sede em Helsinque. "A RAO Nordic não tem capacidade de fazer pagamentos pela eletricidade importada da Rússia", explicou a companhia. A decisão ocorre um dia depois de Moscou prometer retaliações ao anúncio da Finlândia de oficializar a candidatura para adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — uma guinada na neutralidade que vigorava desde a Segunda Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, a Turquia se manifestou contrária à entrada de Finlândia e Suécia na aliança, sob a justificativa de que ambos se tornaram "casas de hóspedes" para organizações separatistas curdas. A Rússia trava uma guerra na Ucrânia, que chegou hoje ao 80º dia sem avanços.
Henri Vanhanen, conselheiro de política externa do Partido de Coalizão Nacional (principal grupo de oposição da Finlândia), afirmou ao Correio que a decisão da Rússia de cortar o abastecimento de eletricidade aos finlandeses era "esperada". "Isso não ameaçará as reservas nacionais. Um próximo passo em potencial pode ser a interrupção das exportações de gás. Isso também não seria algo demais para Helsinki lidar", comentou.
Segundo Vanhanen, o suprimento de eletricidade russa responde por 10% do total consumido pela Finlândia. Ele aponta que substituições podem vir da Suécia e, parcialmente, da produção doméstica. "Houve preparativos para a cessação das importações do gás natural russo. Mas, o produto representou apenas 5% do total de consumo de energia pela Finlândia em 2021. O gás pode facilmente ser substituído por outros combustíveis, ainda que campos industriais na Finlândia sejam atingidos", disse.
O presidente dos EUA, Joe Biden, conversou por meia hora com a premiê da Suécia, Magdalena Andersson, e com o presidente da Finlândia, Sali Niinistö. Os dois líderes reforçaram a Biden o desejo de aderirem à Otan. Em nota, a Casa Branca informou que os três debateram a cooperação em defesa e em segurança, além dos esforços para o fortalecimento da segurança transatlântica. Biden destacou que os dois países nórdicos têm o apoio de Washington ao direito de decidirem o próprio futuro, a política externa e arranjos na área da segurança.
Esclarecimento
Após a ameaça do presidente turco, Recep Tayyip Erodogan, de ameaçar vetar a adesão da Finlândia e da Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Casa Branca "trabalha para esclarecer a posição" da Turquia, de acordo com a porta-voz da Presidência dos EUA, Jen Psaki. "Os Estados Unidos querem compreender melhor a posição da Turquia", declarou John Kirby, porta-voz do Pentágono, ao frisar que "Ancara é um aliado valioso da Otan".
Em entrevista ao Correio, o embaixador da Turquia em Brasília, Murat Yavuz Ates, explicou que seu país é um importante membro da aliança militar ocidental e que, como rege o Tratado do Atlântico Norte, todos os integrantes da organização têm poder de veto sobre a adesão de outros Estados. "Assim, esses dois países não podem se tornar membros da Otan sem a aprovação da Turquia."
Ates acrescentou que a Turquia acompanha de perto os desdobramentos sobre as candidaturas finlandesa e sueca. "No momento, nossa avaliação não é muito positiva. Nosso presidente (Erdogan) fez uma declaração criticando Helsinque e Estocolmo por darem suporte a organizações terroristas, como o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o Partido da Frente Libertação Popular Revolucionária (DHKP-C), pois ambos abrigam seus integrantes. Isso não é uma crítica recente", admitiu o enbaixador turco.
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