MEIO AMBIENTE

Cinco milhões de abelhas morrem abandonadas em aeroporto de Atlanta

Carregamento com 200 caixas, abandonado na pista pela companhia aérea, estava destinado a cerca de 300 produtores do Alasca e seria usado para polinização

Um carregamento com cerca de cinco milhões de abelhas foi abandonado do aeroporto de Atlanta, nos Estados Unidos. A quase 7 mil km dali, na cidade de Anchorage, Alasca, Sarah McElrea descobria em pleno aeroporto que os 363kg em colmeias não tinham chegado ao local. O susto inicial foi prosseguido por apreensão e decepção, nesta ordem, ao temer e, depois, constatar que os insetos estariam mortos àquela altura.

Isso porque a companhia Delta Airlines alterou, sem avisar, a rota que deveria ter sido feita de Sacramento, origem das abelhas, com escala em Seatle, até chegar ao Alasca. Era uma sexta-feira (22/4) e as informações passadas para McElrea eram que os animais não couberam no voo para o qual estavam destinados e completariam sua jornada rumo a Anchorage no sábado, dia seguinte ao prazo original.

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Como se já não fosse penoso o suficiente para esses seres vivos de transporte delicado — as abelhas devem ser alimentadas ao longo do caminho (geralmente com água e açúcar) e devem ser mantidas frescas — a apicultora recebeu a notícia de que os preciosos insetos foram retirados do frigorífico da companhia e abandonados na pista do aeroporto sob um calor de 28ºC.

Pode parecer não tão ruim para nós, humanos brasileiros acostumados a temperaturas acima de 30ºC, mas a criadora sabia que, dificilmente os preciosos insetos estariam vivos depois disso.

Associação de Apicultores do Metrô Atlanta/Facebook/Reprodução - Apiários foram deixados na pista em uma temperatura de 28°C, sem comida

Sem abelhas, sem frutas ou verduras

Embora não sejam naturais do Alasca, essas abelhas são esperadas como um bálsamo para as plantações da região. É que o uso intenso de agrotóxicos dizimou os polinizadores naturais e, agora, os produtores rurais são dependentes dessas remessas de abelhas de outras partes do país ou lugares do mundo.

“Culturas polinizadas como mirtilos, cranberries, laranjas, amêndoas, melancias – muitas para listar – dependem desses apicultores comerciais”, explicou ao Jimmy Gatt, apicultor certificado e presidente da Associação de Apicultores do Metro Atlanta, em entrevista ao jornal The New York Times. Em Anchorage, isso é especialmente verdade para os produtores de maçãs. Mais de 300 donos de pomares e viveiros de macieiras aguardavam ansiosos pelo carregamento.

“As pessoas não entendem o quanto nós, como espécie, somos dependentes das abelhas para a polinização”, indignou-se McElrea. Também em entrevista ao The New York Times ela lamentou a perda de tantos espécimes preciosos. “E isso é um desperdício, uma tragédia absoluta.”

Toda a confusão gerou um prejuízo de US$ 48 mil, cerca de R4 240 mil na cotação desta sexta-feira (20/4). Um valor que os apicultores esperam conseguir recuperar na Justiça, em uma ação que preparam contra a Delta Airlines. Em resposta à reportagem do NY Times, a companhia disse que fez todo o possível para transportar as colmeias em segurança.

As ações, entretanto, foram insuficientes para evitar os 5 milhões de animais mortos. “A pior parte disso para mim é como eles sofreram, e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso”, lamentou McElrea.

Associação de Apicultores do Metrô Atlanta/Facebook/Reprodução - Membro da diretoria da MABA, Edward 'Bean' Morgan Jr., atendeu a ligação da apicultor desesperado do Alasca e fez de tudo para evitar um desastre maior

Associação de apicultores correu ao aeroporto para salvamento

Em uma mostra de apoio impressionante e um ato quase heroico, uma associação de apicultores em Atlanta se mobilizou para tentar salvar os animais. No desespero de não deixar os animais à mingua em uma pista de aeroporto, McElrea entrou em contato com Associação de Apicultores do Metro Atlanta. A seguir, o comandante do enxame, Dave Marshall, conectou-a com Edward Morgan, um membro.

Também ao NY Times, Morgan contou que não sabia o que esperar, mas nada o prepararia para o que viu a seguir. “Apenas aglomerados de abelhas mortas que não tiveram chance porque foram deixadas do lado de fora sem comida”, lembrou. Ele comenta que, embora um quarto do enxame já estivesse visivelmente morto assim que chegaram, eles procuraram soluções para evitar o pior.

“Mas se transformou em algo totalmente diferente. A comunidade de abelhas se uniu. Todo mundo estava tentando garantir que essas abelhas tivessem um lar”, contou. Ele disse que mandou uma mensagem aos apicultores da região avisando que dariam abelhas grátis no aeroporto, porque os insetos sobreviventes não aguentariam terminar a viagem até o Alasca.

Como resposta, 25 pessoas apareceram e, juntas, quebraram pacote por pacote para encontrar apenas centenas, milhares e, depois, milhões de insetos mortos. Para evitar que a tragédia se repita, McElrea e o marido contaram que vão de avião para Seatle e, de lá, alugarão vans que dirigirão até Sacramento para ter certeza de que os apiários vão ser transportados em segurança.

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Associação de Apicultores do Metrô Atlanta/Facebook/Reprodução - Milhões de abelhas destinadas ao Alasca são redirecionadas e morrem em Atlanta.
Associação de Apicultores do Metrô Atlanta/Facebook/Reprodução - Milhões de abelhas destinadas ao Alasca são redirecionadas e morrem em Atlanta
Associação de Apicultores do Metrô Atlanta/Facebook/Reprodução - Membro da diretoria da MABA Edward 'Bean' Morgan Jr. por receber uma ligação de um apicultor desesperado do Alasca cujas abelhas estavam presas no asfalto em Hartsfield Jackson.