Os pais de Madeleine McCann, a menina britânica desaparecida há 15 anos no sul de Portugal, afirmaram, ontem, que "não perderam a esperança" de encontrar a filha, um dia depois de Justiça portuguesa indiciar um homem na Alemanha. "Embora a possibilidade seja remota, não perdemos a esperança de que Madeleine ainda esteja viva e que a encontremos", escreveram Kate e Gerry McCann em um comunicado publicado no site dedicado à filha. O casal salientou que o suspeito "ainda não foi acusado de nenhum crime específico relacionado ao desaparecimento de Madeleine".
A Procuradoria portuguesa anunciou, na quinta-feira, que pediu a acusação de um suspeito na Alemanha, sem especificar a sua identidade ou a natureza das suspeitas que pesam sobre ele, no âmbito de uma investigação sobre o desaparecimento de Maddie realizada "em cooperação com as autoridades inglesas e alemãs".
As reações coletadas pela agência France-Presse (AFP) junto à Procuradoria de Brunswick e ao advogado de um suspeito alemão identificado como "Christian B" não deixam dúvidas de que ele também se tornou o suspeito número 1 da acusação portuguesa.
"É óbvio que Portugal também tem suspeitas sobre ele", mas "eu ficaria surpreso se, da noite para o dia, eles estivessem mais avançados na investigação do que nós aqui", afirmou Hans Christian Wolters, porta-voz da Procuradoria de Brunswick, responsável pela parte alemã do caso, em entrevista à AFP.
"Não devemos superestimar esta medida tomada pelas autoridades portuguesas", disse Friedrich Sebastian Fülscher, advogado de Kiel (norte da Alemanha), que representa "Christian B".
Risco de prescrição
"Em Portugal, até um homicídio prescreve após 15 anos. No caso de Maddie, se ela morreu em maio de 2007, isso acontecerá em algumas semanas. Suponho que a prescrição foi interrompida com esta medida", acrescentou. "O que aconteceu está relacionado com a prescrição. (...) Basicamente, é um truque processual da acusação" para manter o processo em aberto, explicou Gonçalo Amaral, ex-inspetor português responsável pelo caso, que foi demitido da força policial depois de acusar os pais da menina de matá-la acidentalmente e, depois, esconder o corpo.
Madeleine McCann, referida na imprensa britânica como "Maddie", desapareceu em 3 de maio de 2007, pouco antes do seu quarto aniversário, na Praia da Luz, estância balneária da região do Algarve, onde ela passava férias com a família.
O desaparecimento deu origem a uma extraordinária campanha internacional de seus pais para tentarem encontrá-la. As fotos da pequena Maddie, com seus cabelos castanhos e seus grandes olhos claros, deram a volta ao mundo.
Estupro
Após 14 meses de investigações controversas marcadas pela acusação, e depois pela exoneração, dos pais Gerry e Kate McCann, a Justiça portuguesa encerrou o processo em 2008, antes de o reabrir cinco anos depois devido a "novos elementos". No entanto, o caso realmente não avançou até junho de 2020, quando a Procuradoria de Brunswick disse que tinha certeza de que a menina morreu, acrescentando que suas suspeitas recaíam sobre um homem que foi detido em Kiel por outro caso.
No momento do desaparecimento de Maddie, "Christian B." — atualmente cumprindo pena de prisão pelo estupro de uma mulher americana de 72 anos, em 2005, no sul de Portugal — vivia a poucos quilômetros do hotel Praia da Luz, onde a menina desapareceu, segundo os investigadores alemães.
A Procuradoria de Brunswick também iniciou um processo contra ele em outro caso de estupro, o de uma mulher irlandesa, e por abuso sexual de menores em Portugal. "Meus colegas estão trabalhando nesses outros casos para que possamos fechar este capítulo em um futuro próximo. Quando terminar, lidaremos exclusivamente com Maddie", disse à AFP Hans Christian Wolters, porta-voz da Procuradoria de Brunswick.