Mala Tokmachka, Ucrânia- Tanya Los lavava os pratos tranquilamente no domingo (20/3), com sua filha Anastasia ao lado, quando um foguete russo maior do que elas caiu na cozinha.
Ambas saíram ilesas, "um milagre", segundo a mãe, em meio à intensificação dos combates na frente sul da Ucrânia. A cidade de Mala Tokmachka, onde ocorreu o incidente, ilustra a escalada dos bombardeios.
Há várias semanas, chovem foguetes sobre esta cidade a 70 km de Zaporizhzhia, a maior da região: uma de suas escolas foi destruída, assim como o prédio de alojamento dos professores ficam alojados, e um buraco aparece na fachada do centro cultural.
Entre outros edifícios destruídos, várias casas foram atingidas no domingo por ataques aéreos russos, de acordo com Iuri, um morador que se integrou ao grupo local de defesa do território.
- Bombardeios sem parar -
"Sem a geladeira, minha filha teria morrido", conta Tanya, de 59 anos, uma mulher pequena e humilde de ombros curvados.
Segundo ela, Anastasia, de 24, ficou muito abalada e não quis falar com a equipe da AFP. Incrustados no fundo da cozinha, os restos do foguete explicam seu medo.
"Foi um milagre", desabafou Tanya.
Pelo número de série inscrito nos destroços, a AFP conseguiu, após recorrer aos arquivos online do Estabelecimento Norueguês de Pesquisa de Defesa, relacionar o dispositivo ao BM-27 Uragan, um modelo de lança-foguetes da era soviética.
O foguete que atingiu a casa da família Los teria dispersado suas submunições em voo antes de cair sobre a pequena casa de tijolos.
"Agora, toda vez que ouvimos barulho de bombardeio, corremos para o porão", disse a mãe.
"O problema é que há dois dias que não para, dia e noite", completou.
Durante a uma hora e meia que a AFP esteve em Mala Tokmatchka, o som de armas pesadas ressoou continuamente - às vezes perto, às vezes longe. O mesmo acontece em Orikhiv, cidade a cerca de 10 km dali.
"Há dois ou três dias, os bombardeios se intensificaram", afirmou Dmytro Malyovanyk, subchefe de uma unidade local de bombeiros, cujos membros se mobilizaram na terça-feira (19) depois que um supermercado e um consultório médico foram atingidos por bombas russas.
"Há uma semana ainda podíamos ouvir alguns ruídos da guerra, mas vinham de longe", relatou Ira Pelechko, dono de uma loja de combustíveis que passa a maior parte do dia no escuro, devido aos cortes de energia.
Na noite de segunda-feira (18/4), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou o início da ofensiva russa contra o leste do país, mas esta parece ter começado um pouco antes, na frente sul, a algumas dezenas de quilômetros de Mala Tokmatchka e de Orikhiv.
Artur Kharlamov, que chegou a Orikhiv na terça-feira depois de fugir da cidade de Melitopol, no sul, controlada por Moscou, diz que viu soldados russos cavando trincheiras em três pontos diferentes da estrada. Do lado ucraniano, também há novas trincheiras.
Perdidos na zona cinzenta entre os dois lados, os Los estão presos em Mala Tokmatchka, com seu povoado a cada dia um pouco mais destruído e com cada vez menos habitantes. Duas vacas são sua única riqueza, diz Tanya. Uma delas está prestes a dar à luz.