Os últimos defensores de Mariupol ainda ocupam partes da cidade e "lutarão até o fim" contra as tropas russas, disse o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal, em entrevista transmitida pela televisão americana ABC neste domingo (17).
"A cidade não caiu. Nossas forças militares, nossos soldados ainda estão lá. Eles vão lutar até o fim", assegurou Shmygal no "This Week", horas depois do ultimato russo para depor as armas.
Soldados ucranianos sitiados em Mariupol neste domingo parecem ter ignorado o ultimato da Rússia de depor as armas e evacuar este porto estratégico no sudeste da Ucrânia, cuja ocupação seria uma grande vitória para Moscou.
O primeiro-ministro ucraniano também rejeitou as recentes alegações do presidente russo, Vladimir Putin, de que as tropas de Moscou estavam vencendo a guerra.
"Nenhuma grande cidade caiu. Apenas (a cidade de) Kherson está sob o controle das forças russas, mas todas as outras cidades estão sob o controle da Ucrânia", insistiu Shmygal, especificando que mais de 900 municípios, incluindo a capital Kiev, permanecem livre da ocupação russa.
"Atualmente estamos lutando na região de Donbass e não pretendemos desistir", acrescentou falando em inglês.
As declarações do primeiro-ministro vêm logo após expirar o ultimato de Moscou, que pedia aos últimos soldados ucranianos entrincheirados em um enorme complexo metalúrgico de Mariupol que desistissem da luta e saíssem antes das 13h locais (7h em Brasília).
"Todos aqueles que depuseram suas armas terão a garantia de salvar suas vidas (...) É sua única chance", disse o Ministério da Defesa russo no Telegram.
As forças russas também anunciaram que bombardearam outra fábrica militar nos arredores de Kiev neste domingo, em um momento de intensificação dos ataques em torno da capital ucraniana, após a destruição de uma importante embarcação no Mar Negro.
No entanto, os ataques de Moscou concentram-se sobretudo no leste e no sul do país.
No leste, onde se espera a próxima grande batalha desta guerra, uma série de ataques deixou cinco mortos e 13 feridos em Kharkov, a segunda maior cidade do país.
No sábado, os ataques já haviam incendiado vários prédios do centro.
A conquista de Mariupol, onde a situação é "desumana" segundo o líder ucraniano Volodimir Zelensky, significaria uma importante vitória para Moscou.
Com 440 mil habitantes antes da guerra, a localidade representa o último obstáculo para garantir o controle da Rússia na faixa marítima que vai dos territórios separatistas pró-russos de Donbass até a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
A Rússia afirma controlar quase toda a cidade, algo que Shmygal negou durante a entrevista à ABC.
Em entrevista também transmitida neste domingo por outra rede de televisão americana, a CNN, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky descartou a ideia de deixar Moscou tomar a região de Donbass e parte do leste da Ucrânia para impedir o banho de sangue.
"A Ucrânia e seu povo são claros sobre isso. Não temos direito aos territórios de ninguém, mas não vamos abrir mão do nosso", disse ele.
O papa Francisco convocou neste domingo a "ouvir o grito de paz" nesta "Páscoa de guerra", e mencionou uma "Ucrânia martirizada", em sua bênção "urbi et orbi" diante de 50.000 fiéis na Praça de São Pedro, em Roma.
A criação de corredores humanitários em algumas áreas permanece um quebra-cabeça. As autoridades ucranianas informaram neste domingo que, na ausência de um acordo com os russos para um cessar-fogo, suspenderão a evacuação de civis do leste do país por um dia.
Embora não estejam diretamente envolvidos no conflito, os membros da Otan forneceram amplo apoio de armas à Ucrânia, que aumentou à medida que a guerra avança.
A Rússia alertou em uma nota diplomática aos Estados Unidos contra o envio de armas "mais sensíveis" à Ucrânia, que colocam "lenha na fogueira" e podem causar "consequências imprevisíveis", segundo o The Washington Post.
Cerca de 4,7 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde 24 de fevereiro, segundo a ONU, que afirma que mais 40.200 refugiados deixaram seu país nas últimas 24 horas.