Aos 33 anos, Kateryna Butko comanda a AutoMaidan, uma organização não governamental surgida em 2013, em Kiev, durante a chamada Primavera Ucraniana — movimento social que exigia a integração do país à União Europeia, o combate à corrupção e sanções contra a Rússia. A ativista anticorrupção tem documentado evidências de crimes de guerra cometidos pelas tropas russas. Nos últimos dois dias, ela visitou Bucha, a 15km de Kiev, tirou fotos e falou com moradores da cidade. Kateryna contou ao Correio o que viu.
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Quando a senhora esteve em Bucha e quais evidências de violações dos direitos humanos presenciou?
Estive em Bucha na terça-feira e hoje (ontem). Vi a destruição da infraestrutura civil. Escolas, jardins de infância e casas completamente devastadas. Os corpos das pessoas foram simplesmente lançados dentro de um poço perto da igreja. Alguém foi enterrado em um jardim. Os russos não permitiram que as pessoas enterrassem seus mortos. As pessoas nem mesmo puderam levar o corpo para o necrotério ou para outro local qualquer. Cavaram um buraco e enterraram um homem no quintal. Não vi corpos com as mãos amarradas, mas, hoje, vislumbrei o cadáver de um civil executado pelas costas no meio da rua. O que vi foi um massacre.
De todos os testemunhos de sobreviventes que a senhora reuniu, qual foi o mais chocante?
Aparentemente, a história de um homem que me contou como os russos foram até o porão onde as pessoas se escondiam e atiraram contra a cabeça de uma mulher que nada havia feito. Isso aconteceu bem diante de seus olhos. Hoje (ontem), enquanto estávamos no porão, tudo o que ele repetiu para nós foi: "Aqui ainda estão os tênis dela".
O que a senhora viu em Bucha são provas contundentes de crimes de guerra?
Há mais do que indícios óbvios de crimes de guerra em Bucha, pelos quais Putin e todos aqueles envolvidos devem ser responsabilizados. Por exemplo, em uma das escolas de Bucha, os russos propositalmente montaram um posto de tiro e dispararam contra as forças ucranianas de lá. Naquele momento, 62 civis estavam escondidos no porão da escola.
O que aconteceu em Bucha foi uma ação sistemática, que pode ter se repetido em outras cidades ucranianas?
É algo claramente sistemático. Em algumas cidades, a situação é ainda pior do que em Bucha. Na cidade de Borodyanka, há muito mais casas destruídas. Em Moshchun, os russos torturam civis em cativeiro. Em Mariupol, a situação é 100 vezes pior do que em Bucha, e essa cidade está sob bombardeios diários.
Há denúncias de estupros de civis cometidos por militares russos?
Com certeza. Mulheres em muitas cidades ocupadas pelos russos foram violentadas. Ainda não colhemos os depoimentos delas, porque precisam ser tratadas por um médico e um psicólogo.