Guerra na Ucrânia

Zelensky acusa Rússia de 'genocídio' após corpos perto de Kiev

O presidente ucraniano pediu para reconhecer o "genocídio" supostamente promovido pelas tropas russas após centenas de corpos encontrados perto de Kiev

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu, nesta segunda-feira (4), para reconhecer o "genocídio" supostamente promovido pelas tropas russas, no qual centenas de corpos foram encontrados perto de Kiev, provocando duras condenações e apelos para intensificar as sanções contra Moscou.

"São crimes de guerra e serão reconhecidos como genocídio", disse Zelensky à mídia em Bucha, cidade ao noroeste da capital onde, no último fim de semana, foram encontradas dezenas de corpos vestidos como civis, alguns com as mãos amarradas nas costas.

"Vocês estão aqui hoje e veem o que aconteceu. Sabemos que milhares de pessoas foram assassinadas e torturadas com os membros decepados, as mulheres estupradas, as crianças assassinadas", disse, vestindo um colete à prova de balas.

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A Rússia nega sua responsabilidade e sugeriu que as imagens eram montagens. É uma "provocação perversa de radicais ucranianos", reagiu o embaixador adjunto da Rússia nas Nações Unidas.

Os Estados Unidos, no entanto, disseram que vão buscar a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos do órgão internacional e o presidente Joe Biden pediu um "julgamento por crimes de guerra".

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, "apavorada" com as imagens de Bucha, pediu que todas as evidências fossem preservadas.

Na mesma linha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, afirmou que a UE está disposta a enviar equipes de investigadores à Ucrânia para ajudar a reunir provas sobre supostos crimes de guerra.

AFP - Zelensky acusa Rússia de 'genocídio' após corpos perto de Kiev

 "Enterramos todos" 

As tropas ucranianas, ao recuperar Bucha, descobriram dezenas de corpos espalhados pelas ruas.

A escala do massacre ainda está sendo investigada, mas a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, afirmou que até o momento foram recuperados os corpos de 410 civis.

O prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, disse à AFP que 280 corpos foram levados a valas comuns porque era impossível enterrá-los nos cemitérios que estão ao alcance dos disparos.

A empresa de imagens de satélite Maxar apresentou fotos que, segundo afirmou, são de uma vala comum no edifício de uma igreja local.

O servidor público Serhii Kaplychnyi disse à AFP que as forças russas inicialmente se recusaram a permitir que os moradores enterrassem seus mortos em Bucha.

"Disseram que, enquanto estivesse frio, deveríamos deixá-los lá", afirmou. Quando finalmente conseguiram recuperar os corpos, "cavávamos uma vala comum com um trator e enterramos todos", contou.

A Ucrânia também acusou a Rússia de "tratamentos desumanos" aos prisioneiros de guerra.

A responsável pelos direitos humanos no Parlamento ucraniano, Liudmila Denisova, disse nesta segunda-feira que os soldados ucranianos recentemente libertados contaram como "foram detidos em um acampamento, em uma vala, em uma garagem".

Mariupol destruída 

A Rússia informou há alguns dias que se concentraria no leste da Ucrânia e redobrou seus esforços nessa parte do território, assim como no sul.

Nessa região há cidades portuárias fundamentais para criar um vínculo terrestre entre a península da Crimeia - anexada pela Rússia em 2014 - e as regiões separatistas pró-russas de Donestsk e Lugansk.

Em Mariupol, atacada e bombardeada há um mês pelo exército russo, 90% da cidade ficou destruída, informou seu prefeito Vadim Boichenko.

"Cerca de 130.000 pessoas" continuam presas na cidade, que sofre com falta de alimentos, água e energia elétrica.

"Planejamos retirar os habitantes que restam, mas não podemos fazer isso hoje", devido aos bombardeios "incessantes", lamentou.

No leste, especialmente no Donbass controlado pela Ucrânia, a situação é "tensa", disse o governador da região.

O exército está pronto para enfrentar as forças russas e a população civil deve se retirar o mais rápido possível, admitiu Pavlo Kyrylenko, em coletiva de imprensa em Kramatorsk.

Nesta cidade, mulheres, crianças e idosos embarcaram em trens no fim de semana para sair da região.

"O rumor é que algo terrível está por vir", comentou Svetlana, uma voluntária que organizou a multidão na plataforma da estação.

O pior conflito da Europa em décadas, causado pela invasão russa em 24 de fevereiro, deixa 20.000 mortos até o momento, segundo dados ucranianos.

O enviado humanitário da ONU, Martin Griffiths, deve chegar a Kiev após visitar Moscou no último domingo, em uma tentativa de conter os combates.

Enquanto isso, as negociações de paz devem ser retomadas nesta segunda-feira por vídeo, embora o negociador russo Vladimir Medinsky tenha dito que é muito cedo para uma reunião entre Zelensky e Putin.

Novas sanções 

Nesta segunda-feira, a UE começou a debater com "urgência" uma nova rodada de sanções contra Moscou, informou o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell.

O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que há "indícios muito claros de crimes de guerra" em Bucha. Em uma entrevista à rádio francesa, afirmou que as medidas poderiam apontar contra o setor do petróleo e carvão russos, mas se absteve de mencionar o gás, tema que divide os europeus.

"Temos que implementar sanções fortes, mas a curto prazo o fornecimento de gás russo é insubstituível", disse, por sua vez, o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner. Interrompê-lo "nos prejudicaria mais do que a Rússia", acrescentou.

 

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