Guerra

Entra em vigor trégua de dois meses no Iêmen

A coalizão controla o espaço aéreo e marítimo do país, e apenas voos da ONU são permitidos para o aeroporto de Sanaa, um "bloqueio" denunciado pelos houthis. A capital Sanaa está nas mãos dos rebeldes, assim como os portos da província de Hodeida, essenciais para a prestação de assistência humanitária.

Uma trégua de dois meses entrou em vigor neste sábado (2) no Iêmen, em virtude de um acordo mediado pela ONU com as forças pró-governo e os rebeldes houthis, mergulhados numa guerra devastadora há quase oito anos.

Nesse conflito que, segundo a ONU, causou centenas de milhares de mortos e levou este pobre país da península Arábica à beira da fome, uma trégua anterior – acordada em 2016 entre as partes em conflito – e outras decididas unilateralmente fracassaram.

A Arábia Saudita, rica monarquia petrolífera do Golfo, está à frente de uma coalizão militar desde 2015 que ajuda o presidente iemenita Abd Rabbo Mansur Hadi contra os houthis apoiados pelo Irã, que nega fornecer armas a eles.

A cessação das hostilidades em todo o país entrou em vigor às 13h00 (horário de Brasília), no primeiro dia do mês de jejum muçulmano do Ramadã, anunciou o emissário da ONU, Hans Grundberg, em comunicado.

"Os beligerantes responderam positivamente à proposta das Nações Unidas de uma trégua de dois meses", disse ele, enfatizando que poderia ser "renovada com o consentimento das partes".

Este anúncio é o resultado dos esforços de Grundberg, que há meses tenta alcançar uma trégua e retomar as negociações, a fim de uma solução para a guerra no Iêmen, onde as potências regionais rivais - Arábia Saudita sunita e Irã xiita - travam uma guerra por poder.

Na quinta-feira, o emissário da ONU conversou separadamente com representantes dos houthis em Omã e, nos últimos dias, com representantes do poder iemenita e da Arábia Saudita em Riade. A coalizão afirma "apoiar o acordo do governo iemenita para uma trégua", bem como "os esforços da ONU para consolidá-lo", segundo a televisão saudita Al-Ekhbariya.

"As partes concordaram em parar todas as ofensivas aéreas, terrestres e marítimas no Iêmen e além de suas fronteiras", disse Grundberg. Aceitaram também "a entrada dos navios petroleiros nos portos da província de Hodeida (oeste), e a operação de voos comerciais de e para o aeroporto de Sanaa, com destinos pré-determinados", explicou.

A coalizão controla o espaço aéreo e marítimo do Iêmen, e apenas voos da ONU são permitidos para o aeroporto de Sanaa, um "bloqueio" denunciado pelos houthis. A capital Sanaa está nas mãos dos rebeldes, assim como os portos da província de Hodeida. Esses portos são essenciais para a prestação de assistência humanitária.

Neste contexto de desescalada, os beligerantes "concordaram em reunir-se sob mediação da ONU para abrir estradas em Taiz e outras regiões do Iêmen", segundo o emissário da ONU.
Com essa trégua, o objetivo de longo prazo "é dar aos iemenitas esperança de que esse conflito possa terminar", acrescentou.

Após sete anos de intervenção, a coalizão liderada pelos sauditas não conseguiu expulsar os rebeldes das regiões conquistadas no norte do país. Os Estados Unidos saudaram o novo acordo de trégua, mas enfatizaram a necessidade de alcançar "um compromisso que possa trazer paz duradoura a todo o povo do Iêmen".

Por sua vez, a ONG Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) afirmou que está à espera "o início de um novo capítulo, que dará aos iemenitas a oportunidade de recuperar em paz e estabilidade".