Buenos Aires, Argentina- Com uma vigília na remota cidade de Río Grande, em frente às ilhas Malvinas, a Argentina começa, nesta sexta-feira (1º) à noite, as cerimônias pelos 40 anos do início da guerra contra o Reino Unido, pela qual os veteranos ainda fazem reivindicações.
Grupos de ex-combatentes argentinos retomarão neste ano a tradição de se reunir em Río Grande (Tierra del Fuego, no extremo sul), na madrugada de sexta para sábado, em um ato de recordação e de homenagem aos seus companheiros que morreram na guerra, após dois anos de suspensão desses atos devido à pandemia de covid-19.
A vigília na cidade costeira Río Grande, a mais próxima ao arquipélago - separados por 590 quilômetros sobre o oceano Atlântico -, será reproduzida nas principais praças da Argentina. No sábado, haverá uma missa na basílica de Luján, nos arredores de Buenos Aires.
Embora a reivindicação da soberania sobre as Malvinas (Falklands, para o Reino Unido) seja generalizada entre os argentinos, muitos veteranos sentem que ainda lhes falta reconhecimento.
"São quarenta anos de déjà vu. Nós fomos escondidos, ignorados, abandonados e lutamos até que, em 2004, acampamos na Plaza de Mayo por 135 dias e conseguimos sair do poço", disse à AFP Ramón Robles, que foi como soldado recruta para Malvinas e agora é presidente da Federação da Província de Buenos Aires dos Veteranos de Guerra.
Devido a esse protesto, o governo do já falecido Néstor Kirchner (2003-2007) concedeu pensões aos veteranos das Malvinas.
No entanto, dias antes da celebração, grupos de ex-combatentes protestaram nas ruas para exigir um melhor sistema de saúde e também para obter justiça em casos de torturas dos comandos argentinos aos seus próprios soldados durante a guerra, segundo suas denúncias.
Outra matéria pendente por muitos anos foi a identificação dos soldados enterrados em túmulos sem nome nas ilhas, um processo recente antecipado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) junto à Equipe Argentina de Antropologia Forense.
Até agora, foram realizadas duas missões humanitárias: uma em 2016 e outra em 2021, com as quais foram identificados os restos mortais de 122 combatentes enterrados no cemitério Darwin.
No momento da rendição, em 14 de junho de 1982, "tive que enterrar meus colegas, empilhá-los como sacos de batatas, perto da costa", lembrou Robles.
A guerra das Malvinas foi lançada em 2 de abril de 1982 pela última ditadura militar (1976-83) do país sul-americano. Após 74 dias de confrontos que deixaram 649 argentinos e 255 britânicos mortos, Londres retomou o controle dos arquipélagos que ocupa desde 1833. No total, 23.428 argentinos e 25.948 britânicos participaram do combate.