As autoridades ucranianas informaram a descoberta de três corpos de homens com marcas de torturas em uma vala perto de Bucha, uma área que foi ocupada durante semanas pelas tropas russas, que neste sábado (30/4) bombardearam Kharkiv e outras cidades do leste do país.
Os cadáveres, retirados de uma vala da localidade e Myrotske, estavam com as mãos amarradas e os olhos vendados, afirmou o chefe de polícia de Kiev, Andriy Nebytov. "As vítimas foram torturadas durante muito tempo (...) No final, cada uma recebeu um tiro na têmpora", disse.
Myrotske fica perto de Bucha, cidade da região de Kiev que virou símbolo das atrocidades da guerra na Ucrânia desde a descoberta, no início de abril - após a saída das tropas russas -, de dezenas de corpos de pessoas com roupas civis espalhados pelas ruas.
"De acordo com informações preliminares, os ocupantes tentaram ocultar as provas de seus abusos, jogaram os corpos em uma vala e cobriram com terra", disse Nebytov a respeito do cenário em Myrotske.
A Ucrânia acusa as tropas russas de massacres, o que o governo da Rússia nega. Moscou alega que os corpos encontrados são uma encenação do governo de Kiev.
Bombardeios em Kharkiv
A Rússia ocupou durante semanas a região de Bucha, nas imediações de Kiev, depois de invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro.
Mas diante de uma resistência considerada inesperada pelos analistas, o governo russo recuou e passou a concentrar os ataques no leste e sul da Ucrânia, onde avança aos poucos, cercando e bombardeando as cidades.
Kharkiv (leste) sofreu diversos bombardeios de artilharia neste sábado, que deixaram um morto e cinco feridos, informou a administração militar da cidade, a segunda maior da Ucrânia.
Antonina, uma moradora da cidade, encontrou a casa destruída e um foguete na área em que ficava o banheiro. "Foi assustador", disse.
Combates palmo a palmo
"A situação na região de Kharkiv é dura, mas nossas Forças Armadas, nossa inteligência, registraram importantes êxitos táticos", declarou Zelensky em um discurso exibido na televisão.
As tropas ucranianas anunciaram que recuperaram um vilarejo "importante estrategicamente" perto de Kharkiv, Ruska Lozova, e que retiraram centenas de civis.
Uma fonte da Otan afirmou que a Rússia registrou avanços "pequenos e irregulares" devido ao contra-ataque das tropas ucranianas armadas pelos países ocidentais.
O Pentágono disse que os russos "ficaram atrás do que esperavam alcançar no Donbass" porque os ataques aéreos não conseguiram pavimentar os avanços terrestres na região, que os separatistas pró-Moscou dominam parcialmente desde 2014.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou em uma entrevista à agência estatal chinesa Xinhua que a ofensiva de seu país acontece "de acordo com os planos". A concentração de tropas russas no leste não exclui bombardeios em outras regiões.
A Rússia confirmou na sexta-feira que executou bombardeios aéreos contra Kiev durante a visita do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o primeiro ataque contra a capital ucraniana em quase duas semanas.
O ministério russo da Defesa afirmou que usou "armas de longo alcance e alta precisão", que "destruíram edifícios onde são produzidos mísseis Artyom em Kiev".
"É lamentável, mas uma humilhação tão deliberada e brutal das Nações Unidas por parte da Rússia não teve resposta", disse o presidente ucraniano Zelensky.
EUA denunciam a "depravação" de Putin
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, denunciou na sexta-feira a destruição da Ucrânia e criticou o que chamou de "depravação" do presidente russo, Vladimir Putin.
Promotores ucranianos afirmaram que identificaram mais de 8.000 crimes de guerra e que investigam 10 soldados russos por suspeitas de atrocidades em Bucha.
As potências ocidentais anunciaram várias sanções para isolar a Rússia e não aceitam que Putin participe na reunião de cúpula do G20, prevista para novembro na Indonésia.
O presidente indonésio, Joko Wikodo, confirmou a presença de Putin e anunciou que também convidou Zelensky, embora a Ucrânia não integre o G20.
Na entrevista à imprensa chinesa, Lavrov pediu à Otan e aos Estados Unidos que parem de enviar armas a Kiev "se realmente estão interessados em resolver a crise ucraniana".
Último reduto de resistência em Mariupol
A Rússia conseguiu assumir o controle do porto estratégico de Mariupol (sudeste), após semanas de cerco e bombardeios contra a cidade. Mas o último reduto de combatentes, ao lado de muitos civis, persistem nos túneis do grande complexo siderúrgico de Azovstal.
A ONU afirmou que tenta retirar os civis, mas Dennis Pushilin, líder da região separatista pró-Moscou de Donetsk, acusou as forças ucranianas de "atuar como terroristas" por supostamente reter os civis na siderúrgica.
Temores de internacionalização
Os temores de propagação do conflito pela Europa chegaram à zona separatista pró-Rússia da Transnístria, na Moldávia, depois que explosões e tiros foram registrados na região.
A guerra provocou a fuga de 5,4 milhões de pessoas da Ucrânia e outras 7,7 milhões estão em deslocamento dentro do país desde o início da invasão, de acordo com a ONU.
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