Mestre em estudos de Defesa pela Universidade de Haifa e arquéologo pela Universidade de Bar Ilan, Daniel Zonshine é fluente em hebraico e inglês, além de falar português. Em agosto do ano passado, ele assumiu o cargo de embaixador de Israel no Brasil. Em meio ao recrudescimento da violência no Oriente Médio, com a interceptação de um foguete disparado pelo movimento fundamentalista islâmico Hamas em direção a Israel e bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, o Correio entrevistou o diplomata. Zonshine explicou que o governo do primeiro-ministro Naftali Bennett não tem interesse em uma longa ofensiva contra o enclave palestino. Ao mesmo tempo, ele avaliou as operações em Gaza como uma "resposta militar focada e localizada" a atentados que provocaram mortes de civis em Tel Aviv. Desde 22 de março, 14 israelenses morreram nos ataques, enquanto 23 palestinos foram mortos em incidentes ou operações israelenses na Cisjordânia. O embaixador Zonshine também admitiu que a Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém, é uma área "muito sensível e frágil" e que as forças de segurança israelense atuam de modo equilibrado para prevenir a violência. "Algumas dezenas de jovens tentaram quebrar o silêncio e o clima pacífico em um local e em um momento bastante sensíveis", afirmou, ao se referir aos distúrbios registrados na sexta-feira passada e no último domingo, em que mais de 170 pessoas ficaram feridas. Ontem, no primeiro ataque áreo em meses, Israel alvejou um suposto depósito de armas do Hamas.
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Como o senhor avalia a operação militar na Faixa de Gaza?
É uma resposta militar bastante focada e localizada, concentrada em alvos militares, aos ataques das últimas semanas. Ao longo do último mês, tivemos atentados mortíferos. Os cidadãos israelenses sentem-se estressados com essa situação. Então, a nossa operação na Faixa de Gaza é uma abordagem de segurança compreensiva para evitar que ataques voltem a ocorrer.
Existe a intenção de prolongar com esses bombardeios no território palestino?
Não temos nenhum interesse em um amplo engajamento em áreas palestinas. Não queremos deteriorar a situação em Gaza. É um equilíbrio fino. Temos que manter calma a situação em Gaza e, ao mesmo tempo, reagir a lançamentos de foguetes palestinos. A nossa intenção é não criar danos colaterais. Não queremos e nem vamos agir em direção a uma longa campanha na Faixa de Gaza. Este não é o objetivo.
Além da ação militar, como é possível prevenir atentados, como os que ocorreram em Tel Aviv?
É muito difícil esse trabalho de prevenção. Precisa ser algo interno, algo que encoraje esses indivíduos a não realizarem ataques contra Israel. As mídias sociais têm inspirado a violência e estimulado palestinos a matarem israelenses. Estamos trabalhando para prevenir e desencorajar esses atentados. Temos uma coordenação com o governo palestino para a coordenação de segurança. A intenção é manter a região tranquila e as pessoas vivendo pacificamente. Os extremistas têm buscado violar isso. O governo palestino tem estado sob pressão de seu próprio povo. E governos fazem o melhor pelo seu povo.
De que forma o senhor vê os incidentes dos últimos dias na Esplanada das Mesquitas?
Algumas dezenas de jovens tentaram quebrar o silêncio e o clima pacífico em um local e em um momento bastante sensíveis. O Monte do Templo é um local muito sensível. Eles usaram essa sensibilidade para alcançar metas políticas e impedir as pessoas de cumprirem com seus deveres religiosos. Foi uma provocação. O Monte do Templo é uma área muito frágil e sensível.
Mas uma operação militar na Esplanada das Mesquitas não pode surtir efeito contrário e abastecer o ódio e a revolta?
Nós precisamos decidir o que é a prioridade. Por um lado, evitar a violência e não inflamá-la. Por outro lado, precisamos fazer algo para preveni-la. Trata-se de um equilíbrio muito delicado. Determinar qual o nível de força será usada em tais operações. Até mesmo pequenas coisas podem ganhar proporções gigantescas por motivações políticas. Não existe nenhuma razão para infligir o ódio. Além disso, a Mesquita de Al-Aqsa não está fisicamente em perigo.
O senhor gostaria de acrescentar algo sobre a situação no Oriente Médio?
O Oriente Medio está diferente de oito anos atrás. Hoje, temos 90 voos semanais de Israel para Dubai, Abu Dabi e Marrocos. A região está mudando. Nem tudo no Oriente Médio depende da questão palestina. Esse tipo de abertura é algo que temos encorajado. Esse tipo de cooperação com as nações árabes. O que temos visto nos últimos dois anos é um exemplo do que podemos fazer em termos de cooperação regional.
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