O enólogo norueguês Bjørn Bergum conversa com suas videiras.
"Você tem que ter uma conexão com elas. Quando eu acordei esta manhã, havia 3 cm de neve. Eu estava dizendo a elas: 'Não tenham medo — o tempo vai melhorar à tarde.'"
Talvez as plantas de Bjørn precisem de um incentivo extra; elas estão crescendo 61 graus ao norte do Equador — muito fora da latitude 30-50 graus tradicionalmente considerada ótima para a produção de vinho.
O aquecimento global está empurrando os vinhedos mais ao norte e ao sul, em direção aos polos.
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Essa tendência é perfeitamente clara, segundo Greg Jones, climatologista especializado em produção de uvas e vinhos e proprietário de uma vinícola, a Abacela, no Oregon (EUA).
"Muitos de nossos limites climáticos frios mudaram. Eles foram mais ao norte no hemisfério norte e mais ao sul no hemisfério sul."
O vinhedo Slinde, que Bjorn administra com a parceira Halldis, está na parte final desses novos limites. Próximo do Sognefjord, o fiorde mais longo e profundo da Noruega, as vinhas crescem em encostas que pegam Sol, mas ficam de frente para montanhas cobertas de neve.
Bjørn se lembra do fiorde congelando no inverno durante sua infância, mas ele diz que isso nunca mais aconteceu. Ele notou outras mudanças no clima ao longo dos anos.
"Quando chove, chove mais, mas quando está quente, está mais quente também."
Embora se preocupe com o planeta e com seu próprio país, ele reconhece que, como produtor de vinho, as alterações climáticas estão a seu favor.
Mesmo assim, ainda é um desafio produzir vinho tão ao norte. Bjørn diz que é preciso dedicação.
"Faço tudo pelos meus 2,7 mil bebês. Fico acordado à noite se precisar, para ajudá-las a sobreviver se uma geada estiver a caminho."
Ele trabalha com uma variedade de uvas para criar misturas com notas tropicais e um teor de minerais que ele diz vir do solo argiloso.
Um ingrediente secreto é a qualidade especial da luz do norte.
"Temos muita luz aqui. Essa é a nossa vantagem. E temos noites frias. E também temos o Sol dos reflexos do fiorde na encosta íngreme."
"Assim, as uvas, as folhas, absorvem muitos aromas na sua pele, e os retiramos para fazer bons vinhos."
Mas não é fácil convencer a todos que vale a pena provar o vinho norueguês, diz Bjørn.
"Algumas pessoas dizem: 'Não conte a ninguém, mas eu nunca provei um vinho como este. É muito bom — talvez o melhor que eu já provei.'
"Mas eles não se atrevem a dizer isso quando voltam para a Alemanha ou outros países porque acho que eles querem se integrar com o mundo dos vinhos, e nesse caso não é muito bom dizer que provaram um vinho norueguês bom."
Tendo conquistado medalhas de ouro em competições de vinhos noruegueses, Bjørn está ansioso para tentar algumas medalhas internacionais, mas ele acredita que só terá chance de vencer se o julgamento for cego.
"Se eles soubessem que o vinho veio da Noruega, eles provavelmente não iriam prová-lo. Mas quando é uma degustação às cegas, eles têm que provar e você terá a nota que merece, eu acho."
Bjørn e Halldis planejam entrar no mercado este ano. É cedo e eles ainda têm muito a provar, mas Bjørn acredita que eles estão criando uma nova fronteira vitivinícola na Noruega — com cinco produtores em um raio de 20 km.
"Já estabelecemos uma equipe de viticultores aqui em Sognefjord. São apenas 20 mil videiras, mas estamos apenas começando e acho que dentro de cinco ou 10 anos, provavelmente teremos um pequeno distrito do vinho."
Mas, embora a mudança climática possa estar oferecendo uma oportunidade para produtores em territórios anteriormente desconhecidos, ela é um sério desafio para as regiões vinícolas mais estabelecidas do mundo.
"Eu fiz uma análise de 25 dos melhores lugares do mundo para cultivo de uvas, olhando para seus dados históricos de temperatura de longo prazo", diz Jones "E todos os lugares aqueceram durante a estação de crescimento. E durante os invernos, não havia lugares que não estivessem esquentando, não havia lugares que estivessem esfriando."
Em Bordeaux, essa mudança climática é perceptível, segundo a proprietária do Chateau George 7 em Fronsac, Sally Evans.
"Tivemos três períodos com geada de primavera nos últimos cinco anos desde que cheguei aqui. E antes disso, provavelmente não se tinha notícia disso há 20 ou 30 anos. Então esses eventos climáticos extremos parecem ser cada vez mais comuns. E é isso que é difícil."
Ela diz que o aumento das temperaturas globais também pode ser degustado na taça de vinho.
"Quando você tem temperaturas mais quentes, a fruta amadurece e há muito mais açúcar nas uvas, o que lhe dá mais álcool quando você fermenta. O álcool no vinho provavelmente aumentou cerca de dois graus nos últimos 30 anos", diz. "O sol e o calor também afetam a acidez do vinho. Você precisa da acidez para o frescor e o equilíbrio geral."
Verões quentes e secos também podem prejudicar o sabor da fruta, diz ela.
A região vinícola de Bordeaux introduziu novas variedades de uvas mais adequadas a essas condições, mas Sally diz que levará uma geração para que elas cresçam e amadureçam.
Enquanto isso, ela diz que os vinicultores estão se adaptando — podando mais tarde para evitar as geadas da primavera e gerenciando a sombra das folhas para proteger as uvas do sol quente.
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E ela diz que consumidores e produtores terão que aceitar que alguns vinhos conhecidos terão características diferentes no futuro.
"O que vai se tornar típico em 30 anos pode não ser pior, em termos de qualidade — pode até ser melhor — mas pode não ter o mesmo perfil de um vinho de agora."
A mudança climática significa que os produtores precisam se adaptar para sobreviver, diz ela.
"Acho que veremos nos próximos cinco ou 10 anos como isso está impactando as pessoas e seus meios de subsistência aqui em Bordeaux."
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