O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou os países europeus que continuam a comprar petróleo russo de "ganhar dinheiro com o sangue de outras pessoas".
Em entrevista à BBC, o presidente Zelensky destacou a Alemanha e a Hungria, acusando os países de bloquear os esforços para embargar as vendas de recursos energéticos pelas quais a Rússia deve faturar até US$ 326 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) neste ano.
Líderes políticos da Ucrânia têm se mostrado frustrados com o governo de Berlim, que apoiou algumas sanções contra a Rússia, mas até agora resistiu aos apelos para apoiar ações mais duras contra as vendas de petróleo e gás russos.
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"Alguns de nossos amigos e parceiros entendem que é um momento diferente agora, que não é mais uma questão de negócios e dinheiro", disse Zelensky à BBC, diretamente de sua sala de trabalho em Kiev na quinta-feira. "É uma questão de sobrevivência."
O presidente também reiterou pedidos para que mais armas sejam fornecidas à Ucrânia, dizendo que o país não está recebendo suprimentos com rapidez suficiente para repelir o ataque da Rússia.
"Os Estados Unidos, o Reino Unido e alguns países europeus estão tentando ajudar e estão ajudando", disse. "Mas ainda precisamos disso (armas e suprimentos) mais cedo, mais cedo e mais rápido. A palavra-chave é 'agora'."
Diálogo difícil
Nas últimas semanas, as tropas russas se retiraram da capital da Ucrânia, Kiev, e de outros pontos do centro e do norte do país, aparentemente abandonando uma tentativa de tomar toda a Ucrânia à força.
Mas agora há temores de um conflito sangrento e prolongado no leste e no sul do país, enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reorienta sua campanha militar em um esforço para conquistar mais territórios.
A cidade portuária de Mariupol, no sul, um objetivo estratégico para Putin, já foi devastada por bombardeios da artilharia russa durante algumas semanas.
O presidente Zelensky disse à BBC que acredita que dezenas de milhares podem ter sido mortos na cidade.
"Também temos informações de que, além dessas dezenas de milhares de mortos, há muitos desaparecidos", disse. "Sabemos que os documentos das pessoas foram substituídos, eles receberam passaportes russos e foram levados para a Rússia - alguns para campos, outros para outras cidades. Ninguém sabe o que está acontecendo com essas pessoas. Ninguém sabe quantos foram mortos."
Zelensky disse que as atrocidades aparentemente cometidas por tropas russas em Mariupol e nos subúrbios de Bucha e Borodyanka, em Kiev, reduziram ainda mais a possibilidade de negociações de paz com os russos.
Centenas de mortos foram encontrados em Bucha desde que a cidade foi retomada pelas forças ucranianas há pouco mais de uma semana, incluindo civis que foram encontrados baleados na cabeça e com as mãos amarradas às costas. Também há muitos relatos de violência sexual.
"Bucha pode encerrar [as possibilidades de negociações de paz]", disse o presidente Zelensky. "Não é sobre mim, é sobre a Rússia. Eles não terão muito mais chances de falar conosco."
Ele disse que "sentiu todo o espectro de emoções" quando visitou Bucha na semana passada, mas terminou o dia com "nada além de ódio contra os militares russos". Ele acusou o presidente Putin e o resto do exército russo "de cima a baixo" de serem "criminosos de guerra".
Zelensky defendeu sua liderança no período que antecedeu a invasão russa, que começou em fevereiro, quando seu governo exortou o povo ucraniano a manter a calma.
Ele disse que o governo estava trabalhando para fechar acordos para armas e suprimentos, além de se concentrar em evitar o pânico que poderia desencadear uma corrida aos bancos, o que, segundo ele, poderia desestabilizar a economia da Ucrânia.
"Era isso que a Rússia - e não apenas a Rússia - queria, mas não deixamos acontecer", disse ele. "Mas não esperávamos uma invasão em grande escala como aconteceu."
A Ucrânia está enfrentando um novo ataque no leste e no sul, enquanto a Rússia tenta dividir mais o território, após a anexação da Crimeia em 2014.
O presidente Zelensky disse que o leste agora representa a "situação mais difícil" para as Forças Armadas da Ucrânia, "mas é lá que nossas unidades mais poderosas estão concentradas".
"Eles podem nos destruir, mas nós responderemos; eles podem matar, mas também morrerão", disse ele. "Não consigo entender por quê, não consigo entender por que eles vieram (à Ucrânia)."
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