Peru

Escalada de tensão volta a matar

Distúrbios na Rodovia Pan-Americana, em Ica, a 300km de Lima, deixam um manifestante morto e 15 feridos, entre eles 12 policiais. Protestos se iniciaram na segunda-feira, motivados pela alta dos preços. Presidente Pedro Castillo se reúne com Conselho de Ministros

Correio Braziliense
postado em 07/04/2022 00:01
 (crédito: Ernesto Benavides/AFP)
(crédito: Ernesto Benavides/AFP)

Um dia depois de dialogar com o Congresso e suspender o toque de recolher diurno, o presidente do Peru, Pedro Castillo, viaja hoje a Huancayo (centro) para comandar uma reunião do Conselho de Ministros. Na pauta, a convulsão social provocada pelo aumento dos preços dos alimentos e combustíveis. Ontem, um confronto entre policiais e manifestantes que bloqueavam uma rodovia no sul do país deixou um morto e 15 feridos.

Um trabalhador agrícola que participava do bloqueio da rodovia Pan-Americana, na região de Ica, 300 km ao sul da capital, morreu pela manhã durante um confronto com policiais. "Atendemos 15 feridos, um deles em estado grave. Um civil estava morto quando chegou, por causa do conflito", disse o diretor do hospital da cidade de Ica, Carlos Navae, em vídeo publicado na página do hospital no Facebook. Segundo o médico, os feridos que chegaram ao hospital são 12 policiais e três manifestantes.

Os confrontos ocorreram quando um destacamento da polícia tentou expulsar dezenas de trabalhadores agrícolas que bloqueavam a rodovia Pan-Americana, região conhecida por seus cultivos e onde há muitas empresas do agronegócio. A tensão vem crescendo no Peru desde segunda-feira, quando houve protestos em Lima, Ica e várias regiões do país contra o aumento dos preços dos combustíveis e alimentos, o que levou o esquerdista Pedro Castillo a impor um toque de recolher de surpresa — medida repudiada por vários setores da população.

O presidente acabou suspendendo o toque de recolher no meio da tarde da terça-feira, após uma reunião com os líderes da oposição que dominam o Congresso, enquanto no centro de Lima ocorreram confrontos entre manifestantes e policiais e depredação de prédios públicos e lojas. Grupos de manifestantes apedrejaram a sede nacional do Ministério Público (MP) e entraram no Palácio da Justiça, onde roubaram computadores e outros equipamentos, segundo as autoridades. Também causaram danos a várias lojas e a um escritório de uma adminstradora privada de aposentadoria.

Nesses distúrbios, 18 manifestantes foram presos. "Os sujeitos serão denunciados pelo crime contra a tranquilidade pública", disse a polícia. O fim antecipado do toque de recolher foi recebido com aplausos por centenas de manifestantes reunidos perto do Congresso e de outras partes de Lima.

Trabalhador

A polícia identificou o manifestante morto na rodovia Pan-Americana como Jhony Quinto Contreras. O líder dos trabalhadores agrícolas Julio Carbajal disse à rádio RPP que o morto era um trabalhador de 25 anos de Huancavelica, que trabalhava em uma empresa agrícola de Ica. Em nota, a polícia disse que aguarda o MP determinar as causas da morte e acrescentou que um de seus agentes foi detido pelos manifestantes na rodovia, mas saiu ileso. Por sua vez, o Ministério do Interior anunciou que seu titular, Alfonso Chávarry, "supervisionará e reforçará o trabalho dos policiais em Ica para restabelecer a ordem pública".

As tensões nas ruas ocorrem uma semana depois que Castillo se salvou de ser destituído pelo Congresso, onde os opositores radicais o acusam de "falta de direção" e permitir a corrupção em seu entorno. Mas as moções de "vacância presidencial" não são novidades no Peru. Nos últimos quatro anos, parlamentares peruanos apresentaram seis moções de vacância, que levaram à queda dos presidentes Pedro Pablo Kuczynski (direita) em 2018 e Martín Vizcarra (centro) em 2020. Os embates entre o Legislativo e o Executivo começaram em 2016 e levaram o Peru a ter três presidentes em cinco dias, em novembro de 2020.

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