O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, confrontado com um setor da imprensa ao qual acusa de servir a interesses privados, anunciou nesta quarta-feira (6) a criação de um fundo para apoiar jornalistas sem seguridade social.
"Vamos financiar um programa de seguridade social, vinculado ao Instituto Mexicano de Seguro Social, que vai incluir pensões e atendimento médico para o jornalista e sua família", disse o presidente em sua coletiva matinal.
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Ele explicou que para custear o projeto destinará a partir deste ano 25% do orçamento de publicidade oficial à mídia, ou seja, 37,3 milhões de dólares anuais.
O fundo terá como propósito ajudar comunicadores que não contam com ajuda porque trabalham sem contrato, de forma independente.
"É lamentável que muitos dos que se dedicam ao jornalismo terminem sem nada, sem atendimento médico (...) A maioria vive o dia", acrescentou.
López Obrador critica reiteradamente em suas intervenções a imprensa, sobretudo os maiores jornais nacionais, e jornalistas renomados que criticam sua gestão ou que denunciaram supostos casos de corrupção que envolveriam alguns funcionários e até familiares do governante.
Tachando-os de "mercenários", os acusa de serem financiados por seus adversários e inclusive pediu para alguns jornalistas explicarem a origem de seus recursos.
Esta escalada ocorre em um momento em que recrudesce a violência contra jornalistas no México, um dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo, segundo organizações de defesa da liberdade de expressão.
A ONG Artículo 19 denunciou na terça-feira que durante o governo de López Obrador, que começou em 2018 e terminará em 2024, foram mortos 30 jornalistas, o dobro dos casos registrados nos três primeiros anos de seu antecessor
A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) registra oito homicídios de jornalistas em 2021, embora não tenha sido demonstrado em todos os casos que o crime estivesse vinculado à sua profissão. O governo contabiliza seis crimes.
Os crescentes ataques contra a imprensa e o discurso do presidente contra os comunicadores levaram o Parlamento Europeu a votar em 10 de março uma resolução que pede ao governo mexicano para garantir um entorno seguro para o exercício do jornalismo. A declaração denunciou a "retórica populista" do presidente.
López Obrador criticou então os legisladores europeus e nesta quarta assegurou que esta resolução teria sido promovida por um setor da extrema direita espanhola.
Segundo a RSF, cerca de 150 jornalistas foram assassinados no México desde o ano 2000 e 92% dos casos permanecem impunes.
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