O papa Francisco voltou a condenar neste domingo (3) em Malta a "guerra sacrílega" em uma Ucrânia "atormentada", um dia após a descoberta de centenas corpos de civis em uma cidade próxima a Kiev, notícia que provocou indignação internacional.
"Pensando na tragédia humanitária da atormentada Ucrânia, ainda sob o bombardeio desta guerra sacrílega. Não nos cansamos de rezar e ajudar os que sofrem", declarou o papa após uma missa a céu aberto para 12.000 pessoas em Floriana, perto da capital de Malta, Valetta.
No sábado, o pontífice condenou a invasão da Ucrânia e citou "algum poderoso, tristemente preso às pretensões anacrônicas de interesses nacionalistas, que provoca e fomenta conflitos", em uma referência velada ao presidente russo Vladimir Putin.
Ao ser questionado sobre uma possível viagem a Kiev, Francisco respondeu que uma visita à capital da Ucrânia está "sobre a mesa".
A nova crítica do papa aconteceu um dia depois da descoberta de vários cadáveres, alguns deles com as mãos amarradas, na localidade de Bucha, cidade próxima de Kiev.
Francisco, que chegou à missa no papamóvel, foi recebido em uma praça de Floriana pelos aplausos da multidão. Ele parou diversas vezes para abençoar crianças.
"Ontem eu achei que ele estava muito cansado (...) Penso que está sofrendo, já tem idade avançada e a agenda está muito pesada", declarou à AFP Anna Balzan, de 67 anos, que saiu com a família da cidade de Qormi para acompanhar a missa. Ela exibia uma bandeira do Vaticano que comprou durante a visita de João Paulo II ao país em 1990.
Desde o início da viagem de dois dias a Malta, o pontífice, de 85 anos, parece ter problemas nas articulações, uma condição que o obrigou a cancelar outros compromissos recentemente.
Pela primeira vez, o papa utilizou uma plataforma elevatória para embarcar e desembarcar do avião.
Antes da missa, Francisco visitou a gruta de São Paulo, na cidade Rabat, um dos principais locais de peregrinação da ilha, que também foi visitado por seus antecessores João Paulo II e Bento XVI.
De acordo com a tradição cristã, Paulo sofreu um naufrágio em Malta no ano 60, quando seguia para Roma, e foi responsável por vários milagres nos três meses que passou na região.
"A fogueira do acolhimento"
Francisco recordou como Paulo e seus companheiros de viagem foram acolhidos, embora "ninguém soubesse seus nomes, a proveniência nem a condição social".
O pontífice pediu a Deus que ajude os homens a "reconhecer de longe as necessidades daqueles que lutam entre as ondas do mar, atirados contra as rochas de uma costa desconhecida".
"Fazei que a nossa compaixão não se reduza a palavras vãs, mas acenda a fogueira do acolhimento", acrescentou.
A invasão russa da Ucrânia ofuscou a primeira viagem de Francisco a Malta, um país de maioria católica, e que foi adiada em dois anos pelo coronavírus.
A guerra provocou a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Uma questão que Francisco abordou em várias ocasiões desde o início de seu papado há nove anos, insistindo na necessidade de acolher os que fogem da guerra, da pobreza ou das consequências da mudança climática.
Malta está na linha de frente da rota que vai do norte da África até a Europa e milhares de pessoas se arriscam na travessia em embarcações superlotados que acabam no país.
Mas várias organizações acusam o pequeno país, membro da União Europeia, de não ajudar as pessoas que chegam às suas águas. No sábado, o papa lembrou o arquipélago de sua condição de "porto seguro".
"A crescente emergência migratória (...) exige uma resposta ampla e compartilhada", disse.
Ainda neste domingo, Francisco visitará o Laboratório da Paz João XXIII, um centro que se prepara para receber refugiados ucranianos.
Dirigido há cinco décadas por um frade franciscano, que agora tem 91 anos, o local abriga 55 jovens de diferentes partes da África que chegaram a Malta sem documentos.
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