CRISE DA UNIVERSAL

Justiça de Angola condena bispo Honorilton Gonçalves da Universal

Líder da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, Honorilton Gonçalves foi vice-presidente da TV Record e é acusado de ter forçado fiéis angolanos a fazer procedimentos de vasectomia

Marcus Benjamin Figueredo
postado em 02/04/2022 23:21 / atualizado em 02/04/2022 23:21
Bispo Honorilton Gonçalves -  (crédito: Reprodução/YouTube)
Bispo Honorilton Gonçalves - (crédito: Reprodução/YouTube)

O bispo Honorilton Gonçalves, líder da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola e um dos principais aliados religiosos do fundador da igreja, Edir Macedo, foi condenado a três anos de prisão pela Justiça angolana. Ele é acusado de violência doméstica, por ter imposto a religiosos angolanos, especialmente pastores, que fizessem procedimentos de vasectomia.

De acordo com o portal Uol, a Justiça do país africano determinou ainda que Gonçalves deve pagar indenizações de 30 milhões de kwanzas (aproximadamente R$ 313 mil) ao religioso Alfredo Faustino e 15 milhões de kwanzas (R$ 156 mil) a Jimy Inácio. Ambos teriam sido vítimas de violência doméstica e pressão psicológica.

Através de nota divulgada no site da Universal depois que a sentença veio à tona, a igreja diz que "estimula, publicamente, o planejamento familiar consciente, discutido de modo livre e responsável por cada casal. Em Angola, 50% dos pastores e bispos têm filhos, porque esta é a opção deles".

O comunicado alega ainda que "a Igreja respeita as leis, as autoridades locais e a cultura de Angola e de todos os demais 136 países onde está presente no mundo, e recorrerá da decisão de acordo com a legislação local".

As acusações

De acordo com o bispo angolano Valente Luís, atual líder da Universal no país e um dos principais articuladores do rompimento com as lideranças brasileiras, os pastores locais eram obrigados a realizar a vasectomia sob a ameaça de serem transferidos para igrejas menores, com número menor de fiéis, e até de terem os salários reduzidos.

"Há muitos pastores que não estão de acordo com esta cirurgia. Mas, na direção da igreja, sabemos que, quando o pastor não faz a vasectomia, é discriminado", afirma o bispo Valente. A Universal também é acusada de ter as mesmas práticas com pastores e religiosos em solo brasileiro, e já chegou a perder ações judiciais por esta razão. As acusações feitas pela Justiça angolana foram subscritas por mais de 300 bispos e religiosos locais.

Além disso, Fernando Teixeira, executivo tido como "braço administrativo" do bispo Honorilton Gonçalves, foi acusado por lideranças angolanas de utilizar a TV Record África para movimentar dinheiro ilegalmente entre Angola e o Brasil.

A crise da Universal em Angola

No ano de 2020, 330 bispos e pastores angolanos romperam com a direção brasileira da Universal em reação a denúncias sobre uma série de abusos. Em maio de 2021, a TV Record África teve suas atividades suspensas no país. De acordo com o bispo angolano Felner Batalha, em entrevista à Agência Pública, “são mencionados crimes contra direitos humanos, crimes financeiros e, mais especificamente, evasão de divisas e branqueamento de capitais [lavagem de dinheiro]. Nós, como instituição religiosa, não podemos compactuar com esse tipo de atos de violação de direitos humanos e crimes financeiros. Queremos que a igreja, aqui em Angola, fique livre desse tipo de práticas.”

A crise da Universal em Angola foi um dos motivos, inclusive, da turbulenta viagem do vice-presidente Hamilton Mourão ao país, em julho de 2021. Além da participação da comitiva brasileira na conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a visita teria sido articulada como um aceno a Macedo e às lideranças brasileiras da Universal, importante base política do presidente Jair Bolsonaro, e como uma forma de amenizar as tensões diplomáticas entre os dois países, bastante elevadas pela crise.

Uma das principais críticas no período era a de que o governo Bolsonaro atuava como um representante dos interesses privados da Universal no exterior. Alguns meses depois da viagem, veio à tona a denúncia de que o governo teria gastado mais de um milhão de reais com a ida do vice-presidente ao país. De acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), foram desembolsados R$ 441.930,16 em diárias de hospedagem, R$ 609.159,09 em passagens aéreas e R$ 20.818,29 com outros gastos, como seguro de viagens.

A crise com autoridades angolanas teria sido ainda o motivo da indicação do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, à embaixada do Brasil na África do Sul. Segundo fontes da diplomacia e da política ouvidas pelo Correio na ocasião, a embaixada seria a forma de o governo brasileiro mostrar que está prestigiando o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e tio de Crivella.

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