A Rússia anunciou nesta sexta-feira (25) que concentrará sua ofensiva na Ucrânia na "libertação" do leste do país, após um mês de combates e bombardeios que não conseguiram quebrar a resistência desta ex-república soviética.
Segundo relatos, as tropas russas foram forçadas a recuar para regiões ao redor de Kiev e enfrentaram uma contra-ofensiva em Kherson (sul), a única grande cidade que conseguiram tomar desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.
"Os ucranianos estão tentando tomar Kherson", declarou um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, que pediu anonimato. "Não podemos dizer quem está no controle de Kherson, mas não está tão fortemente sob o controle russo como antes", completou.
Na cidade polonesa de Rzeszow, a 80 km da fronteira com a Ucrânia, o presidente americano, Joe Biden, elogiou a resistência do povo ucraniano e voltou a chamar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de "criminoso de guerra".
As autoridades temem que o bombardeio na semana passada de um teatro em Mariupol que servia de abrigo antiaéreo tenho causado cerca de 300 mortes.
França, Turquia e Grécia lançarão "nos próximos dias" uma "operação humanitária" para tentar evacuar civis da cidade, anunciou o presidente francês, Emmanuel Macron, após uma cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas.
Mariupol é uma "cidade de 400.000 habitantes dos quais hoje apenas 150.000 permanecem" vivendo "situações dramáticas", afirmou.
"Eu fugi, mas perdi toda a minha família, perdi minha casa, estou desesperada", declarou à AFP Oksana Vynokurova, uma mulher de 33 anos, que conseguiu sair de Mariupol e chegar por trem a Lviv, no oeste.
Svetlana Kuznetsova, outra refugiada que fugiu no mesmo trem, contou que "não há mais água nem eletricidade em Mariupol. Vivemos nos porões e acendemos fogueiras para cozinhar".
Ofensiva concentrada no leste
O comando da força aérea ucraniana em Vinnitsa (centro) foi atingida por uma salva de mísseis de cruzeiro, que causaram "danos importantes", informaram as Forças Armadas ucranianas.
Em Kharkov (leste), o prefeito denunciou bombardeios "indiscriminados" que deixaram pelo menos quatro mortos.
Apesar dos ataques, as tropas russas sofreram importantes baixas e, há algumas semanas, não têm conseguido qualquer avanço significativo.
O exército russo reconheceu na sexta-feira que 1.351 de seus soldados morreram e 3.825 ficaram feridos desde o início da ofensiva militar, em 24 de fevereiro, e acusou os países ocidentais de cometer um "erro" ao entregar armas a Kiev.
No que poderia ser uma mudança importante de orientações, o exército russo anunciou que, de agora em diante, seu objetivo será a "libertação" da região de Donbass, no leste da Ucrânia, de língua majoritariamente russa.
O vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, Sergei Rudskoy, alegou que a ordem foi dada considerando que "os principais objetivos da primeira fase da operação foram alcançados" e que "a capacidade de combate das forças ucranianas foi significativamente reduzida".
Uma parte de Donbass está sob controle de separatistas pró-Rússia desde 2014.
O envio à Ucrânia de mísseis antitanques portáteis e de outros armamentos ocidentais ajudaram as forças ucranianas a segurar o avanço russo e até a permitir que as forças ucranianas passem ao ataque em algumas regiões.
As tropas russas tentaram por vários dias cercar Kiev, mas os contra-ataques "permitiriam à Ucrânia recuperar vilarejos e posições defensivas em um raio de 35 km" da capital, detalhou um relatório do ministério britânico da Defesa.
"Guerra odiosa"
Após mais de um mês de guerra, milhares de ucranianos morreram, entre eles 121 crianças, e mais de 4.300 casas foram destruídas segundo um último balanço comunicado pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Dez milhões de pessoas tiveram que abandonar suas residências, das quais mais de 3,5 milhões fugiram para o exterior, de acordo com dados da ONU.
O papa Francisco condenou nesta sexta-feira a "guerra odiosa" contra "nossos irmãos indefesos", após denunciar o "massacre" em um país onde "correm rios de lágrimas e sangre".
As negociações para acabar com a guerra seguem sem apresentar resultados significativos.
A Rússia garantiu que as conversas com a Ucrânia não avançam sobre os principais temas e afirmou que o governo de Kiev está preocupado sobretudo em "obter garantias de segurança de potências terceiras" caso "não consiga aderir à Otan".
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, classificou as negociações com a Rússia como "muito difíceis" e afirmou que a Ucrânia não cederá em questões essenciais.
"Insistimos, antes de mais nada, em obter um cessar-fogo e garantias de segurança e da integridade territorial da Ucrânia", declarou.
Putin promulgou uma nova lei que pune com até 15 anos de prisão quem difundir "informações falsas" sobre as ações da Rússia no exterior.
Reduzir a dependência energética
Biden alertou na quinta-feira, após participar de uma cúpula da Otan em Bruxelas, que a Aliança transatlântica "responderia" caso Putin ordenasse o uso de armas químicas na Ucrânia.
O Kremlin acusou os Estados Unidos de desenvolver um programa de armamento químico e biológico na Ucrânia e, nesta sexta-feira, afirmou que as declarações de Biden tem o intuito de "desviar o foco" desse assunto.
Em Bruxelas, Biden e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram a criação de um grupo de trabalho destinado a reduzir a dependência europeia de combustíveis fósseis russos.
A Ucrânia insiste na necessidade de "aumentar a pressão econômica" contra a Rússia e Belarus, aliado de Moscou.
Os 27 membros da UE entraram em acordo para a realização de compras conjuntas de gás para o bloco, com o objetivo de conter a alta dos preços potencializada pela guerra na Ucrânia.